– Plooth. Seimor
Plooth. Investigador particular.
O Sargento
Anacleto, doze anos de polícia, olhou pro baixinho forte, corpo treinado em
academia e, enquanto pegava o cartão oferecido pelo mini atleta, não acreditou
no nome. Pediu um documento e verificou que suas suspeitas tinham fundamento. O
baixinho tinha uma cara brasileira demais pra ter nome estrangeiro. Na verdade,
se chamava Analgésio Picanso.
– Adotei um nome
de guerra, sargento – explicou em voz baixa o detetive. – Na escola só me
chamavam de Anal e a redução do sobrenome também não ajudava muito.
O sargento achou graça,
mas não gostou do som americano do nome inventado. Só o soldado Ataíde entendeu
o anagrama de dois nomes, mas isso só foi conversado muito depois do evento.
Seimor continuou
com sua solução do crime.
– Como eu ia
dizendo, sargento, o caso está resolvido.
– Como assim, caso
resolvido? Isso foi um acidente, não foi? Um atropelamento?
– O marido
continua não conseguindo falar. Só chora. – Ataíde informou de onde estava, uns
quatro ou cinco passos de distância.
Um senhor de uns
setenta anos chorava e só conseguia balbuciar “Bateu nela... Fugiu... Bateu
nela...”
Domingo. Comecinho
da noite. Esquina da rua Eduardo Prado com a rua Barra Funda. Dia e hora de
quase nenhum movimento. Rua deserta. No chão, caída ao longo da calçada, com as
pernas estendidas no asfalto, uma senhora com idade próxima à do homem. Um
vestido simples com alças estreitas presas aos ombros, um sapato com salto
baixo em um dos pés. O outro sapato a pouca distância do corpo, fora da
calçada. Uma bolsa média, meio aberta, ainda presa pela alça ao braço esquerdo.
Os cabelos seriam totalmente brancos se não estivessem tingidos de vermelho
pelo sangue que fluía da cabeça e se espalhava pela sarjeta.
– É claramente
mentira, sargento. Basta usar um pouco as pequeninas células cinzentas pra
perceber o que houve.
O soldado Ataíde
teve sua primeira pista quanto ao nome do detetive nesse momento. A segunda
veio um pouco mais tarde.
– Bateu nela e
fugiu... É o que o marido diz. Mas onde está o carro? E onde estão as marcas no
asfalto? Vidro quebrado de um farol ou de uma lanterna? Nada! O ferimento é na
cabeça. Além dele, existe apenas esse pequeno hematoma no ombro. Muito pequeno
pra ter sido feito por um automóvel. Basta usar a observação pra ver que não
houve atropelamento. Então o marido está mentindo. E só os culpados mentem. Eles
devem ter brigado, ele deu um soco no ombro dela, daí o hematoma. A mulher
perdeu o equilíbrio, caiu sentada com as pernas pra fora da calçada. Ele veio
por trás e bateu na cabeça dela com alguma coisa pesada e a matou. Agora só
falta ao senhor e à sua equipe encontrar o que foi usado como arma. Não deve
estar longe porque quando eu passei e parei, tinha acabado de acontecer. Fui eu
que liguei pra vocês.
– Mas olha só
aquele pobre senhor. Está em desespero. O que você está dizendo é muito
improvável.
– Sargento, um
atropelamento é impossível. E depois que eliminamos o impossível, o que sobra,
mesmo que seja improvável, é a verdade.
Foi a segunda
pista pro Ataíde, grande leitor de livros de mistério.
Sargento Anacleto,
claro, não levou a sério nada do que Seimor disse, mas agradeceu a colaboração,
isolou a área onde estava o corpo e pediu pra levarem o marido pra outro lugar
onde ele pudesse se acalmar e contar o que realmente aconteceu. Seimor se
despediu dizendo ao sargento que, caso fosse comentar sua solução do crime, não
deixasse de soletrar seu nome de guerra direito.
– Seimor Plooth. Como
está no cartão. Vai ser bom pros negócios!
Não muito longe
dali, na avenida Rio Branco, um jovem de uns vinte anos encostava sua bicicleta
e entregava cinco celulares pra um receptador. É uma prática na região. As
bicicletas passam em velocidade por pessoas incautas que falam ao celular. Num
gesto preciso e rápido, arrancam o celular da mão da vítima e seguem velozes
pra longe. Ninguém consegue pegá-los.
– Consegui esses
hoje. O último foi maluco, tá ligado? A véia tava na beira da calçada falando
no celular. Quando eu tava chegando, ela deu um passo, acho que ia atravessar,
tá ligado? O guidão da bike bateu no ombro dela, ela girou que nem um pião e
caiu de cabeça na guia. Eu peguei o celular no giro, tá ligado? Esse devia
valer mais!
O sargento
Anacleto chegou à conclusão real depois de conversar com o marido que estava
uns passos atrás da esposa enquanto ela conversava com o filho ao celular.
Seimor Plooth
ainda acredita que desvendou mais um crime misterioso da grande e fria metrópole.
Tudo estava muito claro para ele.
– Elementar, mon
ami!
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