tag:blogger.com,1999:blog-68031418646958201782024-03-14T08:27:10.063-03:00Papo com o MachadoNelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.comBlogger53125tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-85675968279338581102022-01-29T10:10:00.000-03:002022-01-29T10:10:11.043-03:00EXTRA! EXTRA!<p style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: verdana;"><span> </span><span> </span>Guerra, fome, paz, amor, ódio, trégua e tudo, afinal.</span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: verdana;"><span> </span><span> </span>No preto no branco, gritam alto as letras de um
jornal.<o:p></o:p></span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Assim começava uma música que compus com meu amigo Carioca
(o nome dele era Adilson, mas ninguém o chamava assim). Década de 70, éramos
muito jovens e a música era para um festival estudantil. Naquele tempo havia
muito disso. Escolas organizavam festivais dos quais participavam estudantes de
todas as outras escolas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Fazíamos músicas, escrevíamos textos, criávamos peças
teatrais pelo simples fato de fazer. Pela necessidade de dizer alguma coisa. Eram
tempos em que coisas precisavam ser ditas. Coisas boas e coisas ruins.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Decidimos fazer uma música que falasse de jornais,
genericamente. Chamamos a música de <b><i>Extra! Extra! <o:p></o:p></i></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Eu gostava de ler notícias. O Carioca gostava mais do que
eu. E muitos amigos nossos achavam bobagem adquirir as informações que vinham
de jornais. Mas jornais e revistas eram, basicamente, o meio mais importante de
informações sobre o mundo, sobre o país, sobre a cidade, sobre nós. Havia as
TVs e o rádio, mas os jornais traziam as notícias mais esmiuçadas, traziam
análises, controvérsias. Sim, havia controvérsias. Cada jornal tinha sua linha
editorial, suas preferências oficiais e nós tínhamos a chance de ler dois
jornais diferentes pra ter uma visão mais ampla do fato, com análises
profissionais de vários lados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Nossa música falava de tudo o que um jornal trazia até nós:
a notícia local de um viaduto que caiu, a notícia mundial sobre a Guerra Fria
entre União Soviética e Estados Unidos, sobre a guerra quentíssima entre Vietnã
e Estados Unidos, a fofoca sobre quem está namorando quem e quem se separou de
quem na TV e em Hollywood, palavras cruzadas, tirinhas de quadrinhos,
horóscopo, previsão do tempo, novas doenças, novas curas, algumas crônicas
maledicentes e outras bem humoradas. Tudo dentro daquelas páginas, diariamente.
Você recebia tudo em um pacote só. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O tempo passou e atualmente as pessoas se informam mais
através de redes sociais do que por qualquer outro meio. Parece ótimo, muito
mais gente recebendo informações, as coisas chegando mais imediatamente, não é
preciso esperar a edição de amanhã pra saber o que aconteceu na Síria há meia
hora.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Os únicos problemas são as fontes e o algoritmo.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">As fontes, em geral, são amigos que repassam coisas que
foram enviadas por outros amigos que ouviram amigos dizerem. Nada profissional.
Nada confiável. Mas há uma tendência a se acreditar em tudo que corrobore nossa
opinião pré-formada sobre qualquer assunto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">O algoritmo percebe as coisas que você lê ou recebe e, em
pouco tempo, você não tem acesso a mais nada que não seja aquela ideia, aquela
opinião, aquele suposto fato. Isso gera a impressão de que estamos certos e de
que a maioria está a nosso favor. Na maior parte das vezes isso não é verdade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Já se sabia lá no passado que boa notícia não vendia jornal.
Transpondo pra hoje, sabemos que boa notícia não gera clique. A diferença é
que, no jornal, junto com a má notícia bombástica de primeira página, vinha uma
porção de boas notícias lá dentro. Você acabava lendo tudo no pacote.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Hoje a má notícia gera um clique que abre o texto. As
pessoas leem três ou quatro linhas e pronto. Já se acham informadas o suficiente
pra emitir um comentário, único real motivo pra terem aberto a notícia:
escrever algo raivoso com ares de quem tem informações extras que ninguém mais
tem. Afinal, um primo que trabalha na empresa que fornece papel higiênico para
aquela estatal soube de segredos e repassou no grupo da família do WhatsApp.
Além disso, se houver algum link no corpo daquela notícia ruim, ele levará a
outra notícia ruim. Não há mais o alívio de, no meio da confusão, se ler uma
notícia agradável, uma tirinha engraçada ou mesmo aliviar a tensão com palavras
cruzadas. A rede precisa da tensão em alta porque ela gera cliques e
comentários. Gera acessos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Me pego sendo velhinho. Pensando em outros tempos. Eram
tempos melhores ou eu era jovem demais pra perceber como eram ruins? O mundo
ficou tão mau assim que só temos jogadores acusados de estupro, compositores
cancelando as próprias músicas, comentários idiotas sobre qualquer coisa, racistas,
machistas, homofóbicos, antissemitas, xenofóbicos em geral, mortos na pandemia,
mortos nas enchentes, mortos nos desabamentos, mortos em tiroteios, mortos na
guerra, mortos no shopping, mortos, mortos, mortos? Não há mais notícias boas,
agradáveis, divertidas?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Às vezes sinto falta do pacote completo que os jornais
traziam. Eles ainda estão por aí. Mas capitulei. Me entreguei aos novos tempos.
É difícil eu pegar um jornal pra ler atualmente. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana;">Me lembro de como nossa música terminava:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: verdana;"><span> </span><span> </span>Há um mundo sem igual e a vida é bem real</span></i></b></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: verdana;"><span> </span><span> </span>nas palavras
de um jornal. </span></i></b></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: verdana;"><span> </span><span> </span>Sento e sinto uma vontade louca de reler meu jornal.</span></i></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p><span style="font-family: verdana;"> </span></o:p></p>Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-1739703764272854132021-11-08T10:49:00.001-03:002021-11-08T10:50:30.776-03:00SEIMOR PLOOTH E O ATROPELAMENTO SEM CARRO<div style="text-align: left;"><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;">– Plooth. Seimor
Plooth. Investigador particular.</span></div><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">O Sargento
Anacleto, doze anos de polícia, olhou pro baixinho forte, corpo treinado em
academia e, enquanto pegava o cartão oferecido pelo mini atleta, não acreditou
no nome. Pediu um documento e verificou que suas suspeitas tinham fundamento. O
baixinho tinha uma cara brasileira demais pra ter nome estrangeiro. Na verdade,
se chamava Analgésio Picanso.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">– Adotei um nome
de guerra, sargento – explicou em voz baixa o detetive. – Na escola só me
chamavam de Anal e a redução do sobrenome também não ajudava muito.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">O sargento achou graça,
mas não gostou do som americano do nome inventado. Só o soldado Ataíde entendeu
o anagrama de dois nomes, mas isso só foi conversado muito depois do evento.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">Seimor continuou
com sua solução do crime.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">– Como eu ia
dizendo, sargento, o caso está resolvido.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">– Como assim, caso
resolvido? Isso foi um acidente, não foi? Um atropelamento?</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">– O marido
continua não conseguindo falar. Só chora. – Ataíde informou de onde estava, uns
quatro ou cinco passos de distância.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">Um senhor de uns
setenta anos chorava e só conseguia balbuciar “Bateu nela... Fugiu... Bateu
nela...”</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">Domingo. Comecinho
da noite. Esquina da rua Eduardo Prado com a rua Barra Funda. Dia e hora de
quase nenhum movimento. Rua deserta. No chão, caída ao longo da calçada, com as
pernas estendidas no asfalto, uma senhora com idade próxima à do homem. Um
vestido simples com alças estreitas presas aos ombros, um sapato com salto
baixo em um dos pés. O outro sapato a pouca distância do corpo, fora da
calçada. Uma bolsa média, meio aberta, ainda presa pela alça ao braço esquerdo.
Os cabelos seriam totalmente brancos se não estivessem tingidos de vermelho
pelo sangue que fluía da cabeça e se espalhava pela sarjeta.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">– É claramente
mentira, sargento. Basta usar um pouco as pequeninas células cinzentas pra
perceber o que houve.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">O soldado Ataíde
teve sua primeira pista quanto ao nome do detetive nesse momento. A segunda
veio um pouco mais tarde.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">– Bateu nela e
fugiu... É o que o marido diz. Mas onde está o carro? E onde estão as marcas no
asfalto? Vidro quebrado de um farol ou de uma lanterna? Nada! O ferimento é na
cabeça. Além dele, existe apenas esse pequeno hematoma no ombro. Muito pequeno
pra ter sido feito por um automóvel. Basta usar a observação pra ver que não
houve atropelamento. Então o marido está mentindo. E só os culpados mentem. Eles
devem ter brigado, ele deu um soco no ombro dela, daí o hematoma. A mulher
perdeu o equilíbrio, caiu sentada com as pernas pra fora da calçada. Ele veio
por trás e bateu na cabeça dela com alguma coisa pesada e a matou. Agora só
falta ao senhor e à sua equipe encontrar o que foi usado como arma. Não deve
estar longe porque quando eu passei e parei, tinha acabado de acontecer. Fui eu
que liguei pra vocês.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">– Mas olha só
aquele pobre senhor. Está em desespero. O que você está dizendo é muito
improvável.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">– Sargento, um
atropelamento é impossível. E depois que eliminamos o impossível, o que sobra,
mesmo que seja improvável, é a verdade.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">Foi a segunda
pista pro Ataíde, grande leitor de livros de mistério.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">Sargento Anacleto,
claro, não levou a sério nada do que Seimor disse, mas agradeceu a colaboração,
isolou a área onde estava o corpo e pediu pra levarem o marido pra outro lugar
onde ele pudesse se acalmar e contar o que realmente aconteceu. Seimor se
despediu dizendo ao sargento que, caso fosse comentar sua solução do crime, não
deixasse de soletrar seu nome de guerra direito.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">– Seimor Plooth. Como
está no cartão. Vai ser bom pros negócios!</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">Não muito longe
dali, na avenida Rio Branco, um jovem de uns vinte anos encostava sua bicicleta
e entregava cinco celulares pra um receptador. É uma prática na região. As
bicicletas passam em velocidade por pessoas incautas que falam ao celular. Num
gesto preciso e rápido, arrancam o celular da mão da vítima e seguem velozes
pra longe. Ninguém consegue pegá-los.</span></div></span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">– Consegui esses
hoje. O último foi maluco, tá ligado? A véia tava na beira da calçada falando
no celular. Quando eu tava chegando, ela deu um passo, acho que ia atravessar,
tá ligado? O guidão da bike bateu no ombro dela, ela girou que nem um pião e
caiu de cabeça na guia. Eu peguei o celular no giro, tá ligado? Esse devia
valer mais!</span></div></span><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"></blockquote><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">O sargento
Anacleto chegou à conclusão real depois de conversar com o marido que estava
uns passos atrás da esposa enquanto ela conversava com o filho ao celular.</span></div></span><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"></blockquote><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;"> </span><span style="font-family: verdana; text-indent: 0cm;">Seimor Plooth
ainda acredita que desvendou mais um crime misterioso da grande e fria metrópole.
Tudo estava muito claro para ele.</span><span style="text-align: left;"> </span></div></span><div style="text-align: left;"><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span> </span>– Elementar, mon
ami!</span><span style="font-family: verdana; text-align: justify; text-indent: 0cm;"> </span>
</div>Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-29369126420714074782021-04-06T11:53:00.001-03:002021-04-07T02:04:59.080-03:00CRIATURAS<p> </p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvfay7moEayG4XC9wzo4KfiefYYUS_XDIZOrr1vPpnhEMfEJCt3Rv-CSnSYJYHxAvjnBzlmkqcmPQrqZNqHb5lrXJkvGeEG77pTM1Gdb1lnI7opUsD7g1m0v1DMKhAbVYsqnuwGzXChig/s709/SALA.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="709" data-original-width="709" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvfay7moEayG4XC9wzo4KfiefYYUS_XDIZOrr1vPpnhEMfEJCt3Rv-CSnSYJYHxAvjnBzlmkqcmPQrqZNqHb5lrXJkvGeEG77pTM1Gdb1lnI7opUsD7g1m0v1DMKhAbVYsqnuwGzXChig/s320/SALA.jpg" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="text-indent: 35.45pt;">Todas as noites, ali pelas três e meia da madrugada, Alceu acordava,
tomava um</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="text-indent: 35.45pt;">café, acendia um cigarro e se sentava à mesa da sala para ler um
pouco. A mesa para seis pessoas ficava numa ponta da sala. Sentado ali, Alceu
via o sofá, as poltronas, a TV e, na parede oposta, a janela.</span></div><o:p></o:p><p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Naquela noite, sobre
a mesa, havia restos do jantar. A família combinou de recolher e limpar tudo logo
pela manhã. Alguns copos contendo refrigerantes, outros restos de cerveja. Uma
caixa de medicamentos de onde a esposa de Alceu havia caçado o remédio
costumeiro para sua cólica mensal completava a bagunça sobre a mesa. Alceu
afastou dois pratos e um copo pra conseguir um pequeno espaço pro cinzeiro e
pro livro. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Ao
levantar a cabeça, viu a coisa vindo pela janela. Era arredondada, do tamanho
de uma bola de futebol. Por toda a superfície da criatura esférica havia
protuberâncias. Pequenas trombas com o que pareciam ventosas nas pontas. A
criatura se movia na direção da mesa emitindo um som pelas trombas que lembrava
o ruído que se faz ao sugar o último gole de alguma coisa através de um
canudinho.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">O
susto foi substituído por um grande medo quando viu que não era uma criatura
só. Várias invadiram a sala. Todas fazendo aquele barulho. Todas indo em
direção à mesa onde ele estava! Alceu começou a sentir falta de ar.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">O
medo virou pânico quando percebeu que o barulho produzido era realmente de
sucção. As criaturas estavam sugando o ar da sala. A falta de ar não era
provocada pelo medo. O ar estava mesmo acabando!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Alceu
tentou fugir mas se moveu com lentidão, como se estivesse nadando em gelatina.
As criaturas começaram a subir na mesa. Alceu quase não respirava mais, a
sensação era de que não havia mais ar à sua volta. O peso das criaturas sobre a
borda fizeram a mesa virar. Restos de arroz, fragmentos de carne, vegetais crus
e cozidos foram despejados junto com guaraná, cerveja, analgésicos,
antibióticos, antipiréticos, cremes, xaropes, tudo o que havia na caixa de
remédios. As criaturas retrocederam alguns centímetros. Alceu notou a reação e,
mesmo com movimentos lentos, quase rastejando, chegou ao ponto do chão onde
tudo estava misturado. Foi pegando itens, dois a dois, três a três, estirando
os braços, até que acertou uma combinação que fez as criaturas se afastarem
mais um pouco. Fez um bolinho com aqueles itens e atirou sobre uma delas. A
bola cheia de pequenas trombas emitiu um silvo e explodiu! Alceu juntou
novamente aqueles ingredientes, uns sólidos, outras líquidos, lançou sobre
outra criatura e nova explosão se produziu! Cada ítem daquele devia conter
alguma coisa que, combinada com os outros, eliminava por completo os invasores.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Nesse
instante, Alceu sentiu uma dor intensa começar pela sua boca, passar pela
garganta e atingir seu peito. De repente havia ar no mundo. Ele estava respirando!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 0cm;">*****<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">A
enfermeira não ouviu. Quem informou ao médico foi a técnica em enfermagem que a
auxiliava. O médico não levou a sério. Era impossível que Alceu tivesse falado
alguma coisa antes de ser intubado. Estava extremamente sedado e sob efeito de
bloqueadores neuromusculares. Coma induzido. Mas ela jura que ouviu o paciente
do leito 19 balbuciar um segundo antes de introduzirem o tubo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Alceu
foi curado. Voltou pra casa. Não se lembrava de nada. Nem do sofrimento, nem
dos remédios, nem do tubo, nem mesmo de sonhos ou visões que teve.
Lamentavelmente, também não se lembrava da combinação certa que poderia ser uma
pista pra acabar com o pesadelo dos que estavam acordados. Nem se lembrava de
ter murmurado quando a técnica em enfermagem se aproximou dele:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">- É
assim que eles morrem!<o:p></o:p></p>Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-60214775783955393892020-12-31T11:39:00.002-03:002020-12-31T15:28:56.362-03:00CARA DE FESTA<p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvrNbddQ5FaoYIDbOyR562azPLc4h9Wq1uRikQmF6Xrg3f5H7hXUjXADdmOfpRuT7rDDCU-WweEyzNxh1i50hYOqPUI8FjyB3tFXzfdFZDwxINRwk-K5TyvHU1TzrGAVpPMCb5x87LasI/s709/ANO-NOVO.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="709" data-original-width="709" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvrNbddQ5FaoYIDbOyR562azPLc4h9Wq1uRikQmF6Xrg3f5H7hXUjXADdmOfpRuT7rDDCU-WweEyzNxh1i50hYOqPUI8FjyB3tFXzfdFZDwxINRwk-K5TyvHU1TzrGAVpPMCb5x87LasI/s320/ANO-NOVO.jpg" /></a></span></div><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><br /><br /></span><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Ano Novo tem cara de festa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Ano Novo pra quem, como eu, faz
aniversário em janeiro tem cara de festa da vitória. Eu e ele conseguimos
completar mais uma maratona que durou 12 meses.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Ano Novo pra quem, como eu, faz
aniversário em janeiro, em tempos como esses em que quase todos os noticiários
informam que temos duzentos mil mortos pelo mal do momento e poucos noticiam um
milhão e trezentos mil mortos por todas as outras coisas, um Ano Novo assim mostra,
num primeiro momento, a cara de uma eufórica festa da vitória, mas não de uma jornada
esportiva. Vitória em uma guerra. O prêmio não é uma taça. O prêmio é estar
vivo! Mas isso é num primeiro momento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Logo em seguida, como em todo
começo de ano, nos entregamos a reflexões. Desta vez não só quanto à necessidade
de parar de fumar na semana que vem ou de começar academia e dieta na próxima
segunda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Primeiro alguns pensam que muita
gente morreu, mas muita gente nasceu. Praticamente ninguém comenta os três
milhões de crianças que nasceram em 2020. Gente nascendo nunca mais foi notícia
depois do suspeitíssimo interesse de Herodes pelo assunto no ano 1. Gente
morrendo sempre gera comoção e uma ânsia por informações gentilmente oferecidas
por emissoras, blogs, sites, vídeos, jornais, revistas e qualquer outro meio
através do qual possamos satisfazer uma temporária morbidez que nos acomete ao sabermos
de males que estão atingindo os outros e não a nós. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">A percepção de que pode nos
atingir também a qualquer momento começa a nos causar uma preocupação seletiva.
Ela faz com que tenhamos muito medo daquele mal fartamente divulgado e nos
esqueçamos por completo de todos os outros males que podem nos matar e que
continuam em vigência. Não precisamos mais olhar pros dois lados da rua antes
de atravessar desde que estejamos usando máscara.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Ano Novo pra quem, como eu, faz
aniversário em janeiro, em tempos como esses, também é motivo para orgulho. Mesmo
com tudo acima de tudo e tanta coisa acima de todos, apesar do que nos
acometeu, nos preocupou, nos entristeceu, nos empobreceu física, econômica e
emocionalmente, nos arrasou neste ano que termina, ainda assim estamos aqui.
Vivos. Em pé. Resistindo. Principalmente acreditando.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Continuamos a acreditar que as
coisas podem mudar e que, ao mudar, farão isso pra melhor. Por acreditar, até
nos movemos em direção a isso, tentamos ajudar essa mudança a acontecer. Mesmo
sem saber, colaboramos para que haja mudanças. E acreditar é o embrião e o
alimento da esperança.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Sendo assim, como esperança é o
que temos, que se espalhe a esperança de que 2021 seja um ano de soluções, de
resoluções, de tomadas de posição, de atitudes e, principalmente, um ano de
vida! Que seja justificada a esperança de que essa causa mais noticiosa de
mortes seja debelada, sim, mas que as outras, a bala perdida, o trânsito, os
bombardeios pelo mundo, os milhares de doenças fatais, o enfarto fulminante, a
poluição, o câncer, o desmatamento, a violência, a AIDS, os preconceitos, que tudo
isso, se não desaparecer, pelo menos se reduza. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Que este novo ano não precise,
lá no fim, de uma sensação de guerra vencida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Que este novo ano, lá no fim,
não dê troféu a ninguém porque não houve uma maratona.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Que este novo ano, enfim, apenas
tenha cara de festa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Todos os dias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Mesmo pra quem não faz
aniversário em janeiro.</span></p><p></p>Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-28801702765521900422020-11-29T22:24:00.000-03:002020-11-29T22:24:32.639-03:00ORIGEM<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHf6fCEPZ54Q4cFU9y4AfJN92M8lGwtIXCpyblFcH_EGygU-mcgjZVdyBcEgF95-KgbptMAVwH8npwj0ZV5t6WjuESuDvM3LKAs5RTU0rmR-9cPjKr9E3qsl2I1HxGJ_ag8YovoY9Y5R0/s567/Machadinho2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="567" data-original-width="567" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHf6fCEPZ54Q4cFU9y4AfJN92M8lGwtIXCpyblFcH_EGygU-mcgjZVdyBcEgF95-KgbptMAVwH8npwj0ZV5t6WjuESuDvM3LKAs5RTU0rmR-9cPjKr9E3qsl2I1HxGJ_ag8YovoY9Y5R0/w320-h320/Machadinho2.jpg" width="320" /></a></div> <p></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><br /><span> </span><span> </span>Aí ele
acordou...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Levantou-se
e foi até a sala. Viu copos e pratos sobre a mesa, restos de pernil, algumas
taças com vestígios de mousse de manga. Em volta da árvore enfeitada, indícios
do que tinha sido a noite anterior, a alegria das crianças rasgando em tiras
papéis de presentes. A festa de Natal havia passado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Na
cozinha, colado na garrafa térmica a qual todos sabiam que ele iria procurar
assim que acordasse em busca do reconfortante gole de café que, junto com o
subsequente primeiro cigarro do dia, traria equilíbrio ao pobre cérebro confuso
depois de uma festa, havia um bilhete: “Não quis acordar você. Fui passear no
parque com as crianças. Voltaremos depois do almoço.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">O
café e o cigarro não ajudaram na confusão mental que o bilhete causou. No
parque? Com as crianças? E o isolamento? E a pandemia?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Ligou
a TV e as notícias deram um arremate na perplexidade. Falava-se de política, de
esporte, de eventos pós-natal, mas nada sobre Covid. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Após
o estranhamento inicial, passou a prestar atenção ao que era dito. Em um canal
noticiaram as inaugurações de um novo hospital e três novas escolas marcadas
para dia dois de janeiro. Em outro, um programa de debate político com pessoas
que ele não conhecia mas que, claramente, eram de espectros bem opostos. Mas
ninguém alterava a voz, discutiam-se ideias e propostas. Mudou de canal e, em
um programa de variedades, comentava-se sobre o Natal em um bairro mais
afastado, onde prefeitura e empresas da cidade se aliaram para prover uma ceia
e presentes pras crianças cujas famílias eram as últimas que ainda não tinham
entrado no novo programa de empregos, coisa que, pelo que estavam dizendo,
ocorreria, no máximo, na metade de janeiro. Em um canal religioso, viu,
atônito, um pastor evangélico, um monge budista, um hindu, um padre, um rabino,
um imã e um babalaorixá deliberando em que pontos e a que nível eles poderiam
colaborar uns com os outros em causas sociais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Sem
saber o que estava acontecendo, acessou a Internet e ali viu a criação de
postos de saúde, a ampliação de transportes públicos, anúncios de medicamentos a
preços bem acessíveis contra males cuja cura nem se antevia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Um
pensamento maluco surgiu: “Por quanto tempo eu dormi?”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mesmo se achando idiota, foi ver a data. No
mesmo instante começou um pronunciamento de fim de ano do Presidente da República.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">“Não
é possível... Estamos em...” e, antes de terminar o pensamento começou o
pronunciamento. “E o presidente é o...”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Aí
ele acordou.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Os
restos da festa eram os mesmos, mas a esposa e os filhos estavam pela casa
esperando que ele levantasse pra irem visitar a tia. Iam levar o presente dela.
De carro. Todos de máscara. Estavam seguros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Ele
tomou o café, fumou o cigarro, colocou a máscara e saíram. Ele ainda estava um
pouco confuso, mas, por baixo da máscara havia um sorriso. Um sorriso meio
esperançoso. Tudo tinha sido tão real que poderia muito bem acontecer. As
coisas podiam ficar como ele viu no sonho que teve. Ou não tinha sido um sonho
e agora é que ele estava sonhando? E se tivessem sido dois sonhos e a verdade
fosse uma terceira opção?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;">Aí
ele acordou.</span><o:p></o:p></p>Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-838997114624615792020-10-30T07:56:00.003-03:002020-11-03T10:05:30.753-03:00MEDO<p style="height: 0px; text-align: left;"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: verdana; font-size: large;"> </span></div><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><div style="text-align: justify;"><br /></div></span><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: verdana; font-size: medium;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDloTbchZTiZuCocM-dh2MFK_qmNnnzPn70Y3O-KH_Bf6_KSV-C4SErfILNLyPSgKbJoCCtivpmjFI1qI0NTol7BPWzv8YzNHNkOevsAp1CvjbTeryjDhE1GFCfmuaT5k19bF4eHoV62E/s567/Machadinho.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="567" data-original-width="567" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDloTbchZTiZuCocM-dh2MFK_qmNnnzPn70Y3O-KH_Bf6_KSV-C4SErfILNLyPSgKbJoCCtivpmjFI1qI0NTol7BPWzv8YzNHNkOevsAp1CvjbTeryjDhE1GFCfmuaT5k19bF4eHoV62E/s320/Machadinho.jpg" /></a></span></div><span style="font-size: medium;"><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"> </span><span style="font-family: arial;">Ataulfo levantou-se ali pelas
duas e meia da madrugada. Todos na casa dormindo. A esposa (“Se é ideia do
Ataulfo, com certeza, vai dar em coisa errada”), a filha (“Pai, preciso de uma
ajuda”) e o neto que não chama o avô de vovô e sim de Tatá. Ele foi batizado
com o mesmo nome do avô, mas todo mundo o chama de Taufinho. Aos 65 anos,
acordar no meio da noite era comum pro Ataulfo. Alguma coisa nele lutava
incansavelmente pra evitar a incontinência urinária e fazia com que ele
acordasse a tempo de ir ao banheiro. </span></div></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Como em todas as noites, Ataulfo
saiu do quarto e, sem acender as luzes da casa, foi ao banheiro, passou pela
cozinha, pegou um café, sentou-se à mesa da sala, e ali ficou por alguns
minutos, olhos meio fechados pra não perder o sono, caneca em uma mão, cigarro
aceso na outra, pensando na vida. Na penumbra. Iluminação, só a que vinha da
rua pela janela, bem pouca, difusa, um alívio para olhos cansados de um homem
com um inconfessado medo do escuro total. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Os olhos, por um instante, se
fecharam de vez. Sono. Nesse momento ele sentiu o toque. Parecia que alguém
havia tocado no braço dele com um dedo! Pensou em abrir os olhos, mas o medo o
deteve. E se ele visse alguma coisa assustadora tocando no braço dele? Manteve
os olhos fechados, tentando se convencer de que havia sido impressão, nada
havia tocado nele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Histórias que ele mesmo contava
pra brincar com o neto ou com a filha vieram à sua mente. O apartamento era
velho. Muita gente deve ter vivido e morrido ali. E se algumas almas
atormentadas ainda permanecessem no local? A tubulação do prédio era antiga.
Lendas falavam de bichos jogados na privada, levados ao esgoto e que, em
contato com detritos tóxicos, teriam crescido, se tornado imensos e
ameaçadores. O que tocou nele? O dedo putrefato de um velho cadáver redivivo
que, em seguida, iria dilacerar sua garganta? A garra de um gigantesco pitu de
aquário prestes a se vingar de qualquer coisa com forma humana?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Medo. Às vezes explode numa
reação externa, braços e pernas reagem por instinto, empurrar a ameaça, sair
correndo pra longe dela são reações não planejadas. Às vezes implode em reações
internas. A corrente sanguínea se acelera, a respiração fica curta e rápida, os
batimentos cardíacos disparam. O corpo do Ataulfo escolheu a segunda opção.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Sem coragem de abrir os olhos,
ele sentiu que ia começar a respirar no ritmo do pavor. Não queria chamar
atenção do que quer que estivesse ali. Segurou a respiração. O coração
disparou. Se fosse um instrumento podia-se dizer que passou de duas batidas por
compasso pra quatro. Respiração ainda presa, coração a oito batidas por
compasso. Mas quando Ataulfo sentiu a mão tocando em seu rosto, cada compasso
passou a comportar dezesseis batidas! E acelerando! Até não aguentar mais. Um
instante antes do colapso final, Ataulfo abriu os olhos e entendeu tudo. Mas
era tarde. O coração não aguentou. Sua cabeça pendeu, a metade superior do
corpo desabou sobre a mesa da sala e os olhos de Ataulfo se fecharam pra
sempre.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">No velório, a viúva chorosa
comentava com a cunhada: “Mas que ideia, passar mal na sala sem dizer nada até
morrer”. A filha, com o peito apertado, sofria a perda mas, lá no fundo, se
preocupava: “E agora, quem vai me ajudar quando eu precisar?”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Taufinho não estava no velório.
Fora levado para a casa de uma vizinha pra não ficar mais impressionado do que
estava. Já se sentia culpado demais: “Ele estava dormindo sentado. Podia cair.
Eu só encostei um dedo no braço dele, depois botei a mão de leve no rosto, sem
falar nada, pra não assustar o Tatá”.</span><o:p></o:p></p>Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-26443066001837604012020-10-05T20:35:00.000-03:002020-10-05T20:35:13.222-03:00PUF<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: large;"> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial; font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQt39QmZuhMrnRaIL48Veg0eqzGYbMG3ZAnzVB6WywQCu5b0YSXDn-SBvemWAhLVOWy9kIFICbNfyeNUVUP9NH30dpU5BGLusoqh9g_FWaBsop14Hp028j9qWZQl54rrG66Y8iHzbl7m4/s567/Machadinho.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="567" data-original-width="567" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQt39QmZuhMrnRaIL48Veg0eqzGYbMG3ZAnzVB6WywQCu5b0YSXDn-SBvemWAhLVOWy9kIFICbNfyeNUVUP9NH30dpU5BGLusoqh9g_FWaBsop14Hp028j9qWZQl54rrG66Y8iHzbl7m4/s320/Machadinho.jpg" /></a></span></div><span style="font-family: arial; font-size: large;"><br /></span><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">Fim de semana, mulher e filhos no sítio.
Argeu inventou uma desculpa e ficou em casa. Um fim de semana em paz pra si
mesmo. Discussões com a mulher, cobranças de filhos, barulho o tempo todo,
televisão com programas de que não gostava, sempre irritado, sempre reclamando.
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">– Um dia eu sumo daqui! Desapareço! Viro
fumaça! Puf! <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">A família até brincava com essas frases que Argeu
repetia à exaustão por toda a vida sem jamais ter criado coragem de se afastar
nem por um dia. Pelas costas se referiam a ele como o Doutor Puf.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Com a família fora, Argeu teria dois dias só pra
ele. Dois dias em que ele bastaria a si mesmo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">Mas isso não durou nem mesmo o primeiro dia.
A noite chegou, o silêncio entristecia, não ter o que fazer deprimia, não haver
com quem conversar oprimia, nenhum motivo pra rir ou pra implicar aparecia. Foi
se deitar. Insônia. A cama era grande demais só pra ele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">Ouviu o barulho. Uma porta bateu. Não sabia
definir se havia sido em outro apartamento ou na sala. Tinha certeza de que
havia fechado todas as portas antes de ir se deitar. Levantou-se, ainda no
escuro, um tanto assustado e bateu a perna no móvel de cabeceira que se
arrastou por alguns centímetros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">– Porcaria de movelzinho inútil – disse em
voz alta, quase contente por ter com o que implicar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">Antes de abrir a porta do quarto, arriscou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">– Quem está aí?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">Vagarosamente, com a coragem própria de
alguém que está sozinho em uma casa às escuras, abriu a porta do quarto e olhou
para o corredor. Teve a impressão de vislumbrar, em meio à escuridão, um fio de
névoa no ar, como uma pequena fumaça de alguma coisa que estivera ardendo e se
consumira rapidamente. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">A curiosidade surgiu como a irmã maior e mais
forte da pequena coragem e ele atravessou o corredor que terminava na sala. À esquerda,
a porta que levava à cozinha. Lá havia outra porta, no lado oposto, dando para
a área de serviço. Na outra ponta do corredor ficava o interruptor que, depois
de acionado, trouxe luz ao ambiente e um corpo mais robusto para a coragem.
Olhou de volta pro corredor e não viu nem sinal da tal fumaça. Talvez uma impressão
causada pela visão prejudicada com a falta de iluminação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">Atravessou a sala, abriu a porta da esquerda,
passou pela cozinha, abriu a porta da área de serviço, sempre acendendo luzes.
Olhou tudo e não notou nada de diferente. A curiosidade foi se encolhendo
enquanto a coragem tomava corpo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">– Que bobagem. Claro que foi a porta de outro
apartamento que bateu. Amanhã vou falar com o síndico sobre esse pessoal barulhento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">Voltou apagando luzes. Chegou ao corredor,
apagou a última luz e, nesse instante, percebeu que havia esquecido de fechar a
porta da cozinha. Antes que ele pudesse se virar, o vento empurrou a porta que
bateu com um estrondo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">No momento seguinte ouviu um barulho vindo do
quarto. Como se um móvel pequeno tivesse sido levemente arrastado. Ouviu uma
voz distante dizendo “Porcaria de movelzinho inútil”. Deu ainda um passo
instintivo no corredor e ouviu a mesma voz, uma voz mais próxima, uma voz atrás
da porta do quarto, uma voz bem familiar, sua própria voz: “Quem está aí?”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">A porta começou a se abrir mas Argeu sabia
que não veria mais nada. No instante seguinte, veio a certeza de que, antes que
a porta se abrisse, Argeu deixaria de ver, sentir, pensar qualquer coisa... <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 21.25pt;"><span style="font-family: arial; font-size: large;">Em seguida... Puf!</span></p>Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-1555915596110090082020-06-29T08:11:00.000-03:002020-07-01T08:35:42.367-03:00DE SUSTO, DE BALA...<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Meu dia-a-dia
até março de 2020...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Acordava cedo.
Muito cedo. Quatro e meia, cinco da manhã. Pra nada. Acordava porque acordava. Banheiro,
intenção de voltar pra cama, na volta um café, um cigarro, a intenção de voltar
pra cama desaparecia na fumaça. Lia alguma coisa, pensava um monte de coisa,
quase nada muito aproveitável, a lembrança de que existia uma cama já tinha se
mudado para um passado distante. Ligava o computador. A cada dia uma coisa
diferente: via um vídeo, pesquisava uma curiosidade, escrevia alguma coisa,
ouvia rádio, lia as bobagens inconsequentes em alguma rede social, a cabeça
viajava durante essas atividades e, de repente, as coisas estavam mais claras.
Não na minha cabeça. As coisas estavam mais claras do lado de fora da minha
janela. O dia começava a despontar. Nesse momento, com frequência, vinha à
mente a lembrança de algo que parecia haver se perdido nas brumas do tempo e
nos meandros das fake news: a intenção de voltar pra cama!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ao clicar em “desligar”
desfazia meu contato com o mundo virtual de relacionamentos vagos e informações
imprecisas e reatava minha sempre turbulenta ligação com três velhos amigos
invariavelmente desprezados: o travesseiro, o colchão e o cobertor. Sou de um
tempo em que a gente se cobria em português mesmo e não com edredons. Ficava
naquele estado intermediário entre o sono e a vigília, o corpo quase todo
acreditando que estava em repouso mas os ouvidos dando uma vaga e distante idéia
de que o mundo começava suas atividades. Pouco mais de uma hora depois, os
ouvidos conseguiam convencer o resto de que estava na hora de fazer alguma
coisa. Me levantava. Um café, um cigarro, computador ligado novamente e
começava a trabalhar na parte burocrática do que faço pra ganhar a vida.
Relatórios, programações, correções de traduções feitas por pessoas que até que
se viram bem no inglês mas não sentem a mesma paixão pela correção no
português, elaboração de escalas de trabalhos, envio dessas escalas e já estava
na hora de começar a providenciar o almoço.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Cozinha.
Temperos. Cebola, alho, pimenta do reino, bacon, páprica, colorau, tomates,
feijão, arroz, carne, frango, alface, tomate, ovos... O mundo da gastronomia
trivial, a elaboração do tão apreciado conjunto arroz-feijão-bife-batata-frita-salada ou do macarrão ou do prato especial que naquele dia deu vontade
fazer. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Banho. Roupa
limpa. Dar almoço pro neto. Comer. Trabalhar. Ganhar a vida. Exercer as
atividades que exerço há décadas para garantir não só o almoço e o jantar, mas
o gás com que prepará-los, a água usada pro cozimento ou para a lavagem de
panelas e utensílios, a energia elétrica para ligar liquidificador, processador
e outras maquininhas além da água quente pro banho e a luz pra que se possa
enxergar o que se está fazendo. E, claro, um lugar com paredes e teto onde
proteger todas essas coisas e as pessoas para as quais faço essas coisas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Trabalhava a
tarde inteira, um pedaço da noite, o trabalho terminava, voltava pra casa,
passeava com o bicho, um serzinho peludo ao qual a família insiste em tratar
como bichinho de pelúcia mas que eu e ele sabemos ser um cachorro, jantava,
dividia minha atenção entre o computador e a família, entre amigos no whatsapp
e a esposa, entre fãs no Facebook e as filhas e netos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Todos iam se
deitar, eu ficava acordado assistindo a alguma série ou filme ou vídeos de
humoristas e de filósofos, nem sempre conseguia estabelecer a diferença, os
olhos pesavam, a cabeça já não entendia direito, ria de Sartre e tecia
considerações profundas sobre uma frase de Afonso Padilha. Era hora de me
deitar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E a rotina
recomeçava. Pequenas variações a cada dia, mas, basicamente, essa era a minha
vida até março de 2020.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Meu dia-a-dia
atual pode ser descrito em menos tempo. Na verdade posso contar tudo em apenas
quatro palavras: exatamente a mesma coisa!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não sei se sou
um valente ou se sou um irresponsável. Se prezo demais a vida que tenho com
minha família ou se sou um ganancioso que não está nem aí pra nada. Na verdade,
ainda não tive tempo de pensar de verdade no assunto. A vida não nos dá muito
tempo para ponderações na hora de tomar decisões.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Estou bem, estou
vivo, estou saudável até onde pode estar saudável um fumante com mais de sessenta
anos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não sei se sou
heroico ou inconsequente. Não faz diferença pra mim. Não estou interessado em
me tornar nem uma coisa nem outra. Já dá muito trabalho ser simplesmente eu. O
que sei é que se alguma coisa mudar nesse dia-a-dia, a parte mais prejudicada
vai ser a do teto e a do almoço. Se meu dia-a-dia não for daquele jeito, não há
como viver. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Alguns dizem que
sou só um maluco, que posso morrer porque saio de casa pra ir comprar a cebola
que acabou pra poder temperar o feijão ou porque, às vezes, vou ao local de
trabalho fazer alguma coisa, mesmo com máscaras, luvas, álcool e todo o resto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O que não
percebem é que estão dizendo isso a um homem que, aos sessenta e seis anos,
pode morrer mesmo sem fazer nada, trancado em casa, escondido embaixo da cama,
tremendo de pavor se ouvir alguém espirrando no apartamento ao lado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Um dia o poeta
baiano ensinou e eu guardei. Sei que adiante, um dia, vou morrer. De susto, de
bala ou vírus. Porque o vício... bom, esse parece que desistiu de tentar me
matar.<o:p></o:p></span></div>
<br />Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-6934404268154434792020-06-11T15:29:00.001-03:002020-06-11T17:13:14.983-03:00LÍDERES, AMIGOS E CONTRAS<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoc6qLW3E9OAdfbFpNhMMUF-i1F7j0BFDHig5G4vXjvpxg95kaDN-bS8-1P_0vew_QjvetLMRr2OCcN772PkLtpT9jpQvm1QfqTGe6XLUndy2x0kMmpSesAOjB_tSyhiceGket-vWl44o/s1600/Machadinho.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="567" data-original-width="567" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoc6qLW3E9OAdfbFpNhMMUF-i1F7j0BFDHig5G4vXjvpxg95kaDN-bS8-1P_0vew_QjvetLMRr2OCcN772PkLtpT9jpQvm1QfqTGe6XLUndy2x0kMmpSesAOjB_tSyhiceGket-vWl44o/s320/Machadinho.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b>Todo agrupamento
humano é formado do mesmo jeito.<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b>Há os Líderes.
São os que que mandam. Criam regras, tratados, acordos, normas e regulamentos.
Não têm muita certeza de que tudo seja bom, por isso criam equipes, fiscais,
comissões, patrulhas para que o cumprimento de tudo seja garantido. Fingem que
não querem, mas gostam que os outros os chamem de Líderes. Juram que vão mandar
para o bem de Todos os que formam aquele grupo. Juram que só eles sabem o que é
bom para Todos.</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b>Logo abaixo vem
o grupo dos Amigos dos Líderes. Não têm coragem nem disposição para mandar. Se
contentam em serem vistos como aqueles que vivem colados aos Líderes. Pequenas
rêmoras grudadas, se alimentando dos restos que os tubarões deixam para trás. Repetem
tudo o que os Líderes dizem. Acham que os Líderes são fortes, poderosos e
inteligentes e acreditam que também parecerão fortes, poderosos e inteligentes
com essa convivência íntima e subserviente.<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b>Na outra ponta,
vêm os Contras. Contradizem tudo o que os Líderes determinam. Mesmo que seja
alguma coisa correta ou benéfica. Os Contras alegam que lutam contra o mal que
os Líderes fazem a Todos. Na verdade, eles querem é tomar o posto de comando e
ditar novas regras para o bem de Todos do grupo. Os Contras alegam que só eles
é que realmente sabem o que é bom para Todos.<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b>Os três núcleos
têm uma coisa em comum: ninguém pergunta o que os tais dos Todos acham que é
realmente bom.<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b>Só que, enquanto
os grupos se digladiam pelo direito de mandar e salvar, os tais dos Todos, na
verdade, não estão nem aí pra eles.<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b>Líderes, Amigos
e Contras infundem medo. Fazem ameaças veladas. Quem não segui-los, quem não
obedecê-los, não terá a chance de compartilhar do mundo perfeito que eles
prometem. Na verdade, não terá nem mais o direito de estar entre Todos. Por
isso, Todos fingem que concordam com eles. Fingem que concordam com os Líderes,
com os Amigos e com os Contras. Ao mesmo tempo! Todos nem percebem que são mais
espertos, mais plurais, mais ecléticos e mais poderosos do que os Líderes, os
Amigos e os Contras.<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b>Assim é em
qualquer instância: sociedades de bairros, governos, sindicatos, até mesmo em
condomínios, festas organizadas, rodinhas de bar ou redes sociais.<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b>Nenhum dos
grupos está realmente pensando em Todos e sim no próprio poder. Líderes, Amigos
e Contras pensam apenas em vencer discussões e disputas. Pensam, acima de tudo,
em conservar sua posição.<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b>Enquanto isso,
por instinto de sobrevivência, Todos fingem obedecer aos Líderes, aos Amigos e
aos Contras mas, na verdade, seguem suas mentes, seus corações, suas
consciências, seu conhecimento e suas necessidades para tocarem suas vidas do
jeito que acharem melhor.<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , "sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b>Afinal, esse é o
único jeito de realmente se viver a vida que se tem. <o:p></o:p></b></span></div>
<br />Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-82879865583649822762019-06-20T15:39:00.001-03:002020-01-25T10:38:18.372-03:00DITADOS TROCADOS<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">O preguiçoso trabalha dobrado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">O apressado come cru. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Acho que isso está trocado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">O preguiçoso não faz as coisas como devem ser feitas porque tudo o cansa. Tudo dá muito trabalho. Nada vale a exaustão. Se tem uma tarefa muito grande no emprego, dá um jeito de deixar pra amanhã ou consegue alguém que faça por ele um trabalho que talvez ele fizesse melhor. Se tem que levar as crianças a um passeio, perde a chance da diversão e dá um jeito de alguém levá-las por ele. Se alguma coisa acabou em casa, fica sem ela ou substitui por outra que, na verdade, não faz a mesma coisa. Ou não faz a mesma coisa direito. Difícil quando o que acabou foi o papel higiênico, mas ele dá um jeito. O importante é evitar a fadiga. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">O preguiçoso não lava alimentos, não descasca, não corta, não processa, não refoga, não frita, não cozinha, não assa, não flamba, não gratina, não prepara nada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">O preguiçoso pega uma fruta ou faz um sanduíche com o que tiver na geladeira. O preguiçoso come cru!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">O apressado acha que é um visionário prevenido. Algo tem que ser feito, o tempo correto de fazer a coisa é grande demais pra ele e o importante é queimar etapas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Aí entra outro velho ditado: ele põe o carro na frente dos bois. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">O apressado não espera, não prorroga, não aguarda, não previne, não ordena, não matura, não repensa, não pesquisa, não projeta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">O apressado faz tudo na hora. E, claro, nada estará bem feito. Fatalmente, tudo terá que ser refeito. E ele é o responsável pelo que foi mal feito, logo, é ele quem terá que refazer. O apressado trabalha dobrado!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Fico pensando se não há mais ditados trocados por aí. Só espero que o tal que fala de um pau que nasce torto não tenha nenhuma ligação com o que termina dizendo que tanto bate até que fura!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">INSCREVA-SE NO CANAL <a href="https://www.youtube.com/user/papocomomachado">PAPO COM O MACHADO</a></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: large;">ACOMPANHE NOSSOS PAPOS AO VIVO!</span></div>
Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-2276712337195177732018-08-29T10:03:00.001-03:002018-08-29T10:03:13.927-03:00MERCADO SATURADO<div style="text-align: center;">
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Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-52924035104482445612018-08-27T11:02:00.001-03:002018-08-27T11:02:11.693-03:00JOHNSON<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/4wlylB0bLn8" width="480"></iframe></div>
Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-49941462632715757472018-08-22T10:25:00.001-03:002018-08-22T10:25:11.686-03:00TÉCNICOS<div style="text-align: center;">
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Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-71747447684845210842018-08-20T10:06:00.001-03:002018-08-20T10:06:57.408-03:00AINDA MIAMI!<div style="text-align: center;">
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Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-57282847500483076162018-08-10T10:46:00.001-03:002018-08-10T10:46:50.359-03:00DRT<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/UjTan0GmdeE" width="480"></iframe></div>
Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-78700274983061522032018-08-09T07:48:00.000-03:002018-08-09T07:48:31.653-03:00CAN YOU GET NO SATISFACTION?<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4hniNNWdMPUkl6mv1yWiy23USFhKZKa5-mA1K1cK7TARed6hOkxkac-GOJwCknjkOxpTtm1qfYTnGD0XGayKfTiS2kd10bM5OIG7x3XhAfK4xgch8OMm8YTYmnDwdFNZbj7rve2qtyrM/s1600/BLOG.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="567" data-original-width="567" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4hniNNWdMPUkl6mv1yWiy23USFhKZKa5-mA1K1cK7TARed6hOkxkac-GOJwCknjkOxpTtm1qfYTnGD0XGayKfTiS2kd10bM5OIG7x3XhAfK4xgch8OMm8YTYmnDwdFNZbj7rve2qtyrM/s320/BLOG.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Todo
mundo tem ideais. É bonito pensar em ideais coletivos, mas sabemos que isso é
improvável. Ideais coletivos são apenas imposição do que um grupo acredita ser
o ideal. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mas
o que é o ideal pra mim pode não ser o ideal de outra pessoa. E o ideal do
outro não é menor, mais feio, mais sujo, mais baixo do que o meu só por ser
diferente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em
qualquer batalha nunca há só dois lados. Os lados são múltiplos. E vou
considerar qualquer lado que não seja o meu como oposto.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quando
a batalha termina pode-se pensar que um lado ganhou. Que seja! Venceu não
necessariamente a melhor ideia, já que cada um acha que a melhor ideia é a sua.
Mas uma ideia venceu, um pensamento prevaleceu. Que se estabeleça uma trégua! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">De
nada adianta amigos ou simples colegas ficarem com acusações, intrigas,
comentários sobre quem fez ou não fez isso e aquilo, quem devia e quem não
devia, suposições, suspeitas, como deveria ter sido ou o que não deveria ter
sido, gente acusando, gente rebatendo, gente se explicando... <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Gente...
acabou!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Nada
dessas vingancinhas, maledicências ou adaptações light dos antigos
“justiçamentos” vai servir pra alguma coisa. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Nada
muda o ontem e nada garante o amanhã. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O
hoje está definido. Vamos viver isso, dia-a-dia. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Todos
temos mágoas, raivas, coisas a cobrar, desmandos a acusar. Mas com isso só
vamos conseguir manter o clima de pressão no qual pensamos que iríamos por um
fim ao escolhermos um ideal pra acatar.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quem
se dá bem não ficando satisfeito nunca é banda de rock. Mesmo assim, só uma!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Voltemos
à vida normal. Cada um cuidando da sua, que, afinal, é o máximo que qualquer
ser humano realmente consegue fazer.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #9fc5e8; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 17.6px; text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">INSCREVA-SE NO CANAL PAPO COM O MACHADO!</span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background-color: #9fc5e8; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 17.6px; text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><a href="http://www.youtube.com/papocomomachado" style="color: #674ea7; text-decoration-line: none;">www.youtube.com/papocomomachado</a></span></span></div>
Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-23213445134152735952018-08-08T10:27:00.001-03:002018-08-08T10:27:55.940-03:00COLECIONADORES DE DUBLAGENS II<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/mlDByauuDVY" width="480"></iframe></div>
Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-86722493557470860032018-08-06T10:09:00.001-03:002018-08-06T10:14:25.139-03:00FORA DO BRASIL<div style="text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/PJgZ7VUE84M" width="480"></iframe></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background-color: #9fc5e8; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 17.6px; text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">INSCREVA-SE NO CANAL PAPO COM O MACHADO!</span></span></div>
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<span style="font-size: 13pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><a href="http://www.youtube.com/papocomomachado" style="color: #674ea7; text-decoration-line: none;">www.youtube.com/papocomomachado</a></span></span></div>
<div>
<span style="font-size: 13pt;"><br /></span></div>
Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-66062976225614919802018-08-06T09:13:00.001-03:002018-08-06T09:13:51.943-03:00GENTE BOA!<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“Eu
desisto! Não existe essa manhã que eu perseguia. Um lugar que me dê trégua ou
me sorria. Uma gente que não viva só pra si. Só encontro gente amarga
mergulhada no passado procurando repartir seu mundo errado nesta vida sem amor
que eu aprendi”. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Taiguara
lançou essa música em 1974. Há 44 anos. E a toda hora a vida faz com que me
lembre dela. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">De
tempos em tempos parece que o mundo em volta de mim enlouquece. Gente acusando,
gente reclamando, gente difamando, gente se aproveitando pra destruir
desafetos, gente fazendo promessas, gente fazendo ameaças, julgando,
condenando. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Gente
interferindo com a vida de muita gente<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>pra manter uma posição equivocada, às vezes não merecida. Em toda parte!
Parece um comportamento transmitido por algum tipo de mosquito que se reproduz
de tempos em tempos, uma endemia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Enfim,
talvez não exista mesmo essa manhã que eu perseguia...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mas...
não! Eu não desisto! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Minha
gente não merece desistências. Minha gente merece fé. E eu tenho fé. Ainda
acredito que minha gente, na verdade, é boa gente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Gente
boa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">INSCREVA-SE NO CANAL PAPO COM O MACHADO!</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><a href="http://www.youtube.com/papocomomachado">www.youtube.com/papocomomachado</a></span></span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-23558743766661593452018-08-05T20:54:00.001-03:002018-08-05T20:55:22.145-03:00TRADUTTORE TRADITORE<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/E6gY-I-aLFk" width="480"></iframe>Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-77538098877727824352018-04-01T18:43:00.001-03:002018-04-01T18:46:37.091-03:00PÁSCOA<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjATEX7dSOjdau2e-WLOn-AcMpsf-8G4cBUQY1on2DMykTXpAPvZWW_BrZ4l2AnYdFuUHY4CXasokm1AK1B6q_g7FQYLAufeNKS_bXhhn5_V-MCKbac4Qxr8x6kOm9z6sCPAGnS9HJ084/s1600/P%25C3%2581SCOA.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="425" data-original-width="425" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjATEX7dSOjdau2e-WLOn-AcMpsf-8G4cBUQY1on2DMykTXpAPvZWW_BrZ4l2AnYdFuUHY4CXasokm1AK1B6q_g7FQYLAufeNKS_bXhhn5_V-MCKbac4Qxr8x6kOm9z6sCPAGnS9HJ084/s320/P%25C3%2581SCOA.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Festa cristã.
Não sou lá muito cristão, embora, sendo brasileiro, tenha uma formação
compulsória mais ou menos baseada no cristianismo. Por aqui, todos sabemos, até
ateu diz “Graças a Deus”, curte um presente de Natal e adora um ovinho de
chocolate na Páscoa. Sem contar o fato de que ninguém se queixa dos feriados
prolongados que o laicismo de mentirinha proporciona a todos nós.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Mas mesmo sem
ser um praticante, culturalmente sei de datas, fatos, histórias, lendas. E me pego pensando em coisas ligadas a tudo isso durante o tríduo
Endoenças-Aleluia-Páscoa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Época de
renovação. Época de revitalização, palavra com significado óbvio de reviver,
ressuscitar, fazer voltar a vida perdida e voltar à vida quem a perdeu.
Simbólico, claro. Ninguém vai sair por aí levantando mortos e criando um
apocalipse zumbi. Mas é possível revitalizar tantas outras coisas!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Na semiótica da
chamada Semana Santa temos uma ordem das coisas. Primeiro Endoenças, período de
indulgência, de perdão, de limpeza de desavenças passadas. Em seguida Aleluia,
dia de alegria, de cânticos e glorificações pelo ressurgimento que há de vir,
seja do que for. Mesmo que a cultura popular tenha convertido esse dia em
simplesmente “Dia de Malhar o Judas”. E, finalmente a Páscoa, o dia da
ressurreição, dia em que tudo se renova, revitaliza, revigora, ressurge para reiniciar
direito, talvez desta vez dê certo, quem sabe começando de outro jeito a gente
faça funcionar. Seja o que for.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Neste momento penso se não devíamos aplicar essas ideias em qualquer coisa. Se o
caminho para que algumas coisas se acertem não passa exatamente por aí.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Por exemplo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Tenho uma ideia
do que é certo. Arrebanho um grupo que compartilha das minhas convicções e das
minhas intenções. Começamos a botar em prática o que achamos certo. Com isso
assumimos um comando que até o momento ninguém tinha, uma vaga a ser preenchida
na elaboração do Certo. Mas todo mundo sabe que não existe O Certo. Quando
muito existe UM Certo. O meu é um. Outras pessoas podem não achar que o meu
certo seja O Certo. Não são pessoas más. Não são pessoas vis. Não são menos do que
eu. Só pensam de maneira diferente. Mas eu estou no comando. Eu e meu grupo
temos certeza de que sabemos qual é o único Certo e consideramos qualquer
oposição uma afronta não a nós mas ao Certo. Uma ilegitimidade. E isso não pode
continuar. Começamos a penalizar os opositores. Eles, por sua vez, se achando
certos, mas sem o poder de comando do meu grupo, sentem que só lhes resta a
guerrilha, minar o grupo oposto, reclamar, xingar, fazer oposição velada pra
não sofrer consequências. Meu grupo, por sua vez, se sente ultrajado por estar
sendo traiçoeiramente difamado por gente que não quer que O Certo vença. E essa
batalha subterrânea pode durar anos, décadas!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">É aí que entra
meu pensamento no tríduo. Endoenças, ou seja, Indulgência. Bom período pra
todos pensarem em serem mais indulgentes. De todos os lados. O grupo opositor
pode exercer essa indulgência apagando mágoas, deixando de lado pequenas
ofensas, esquecendo que o outrora amigo fez isso ou aquilo com ele. O amigo não
fez com ele. Fez em nome de um Certo que ele acredita ser único. O meu grupo
hipotético, o do comando, pode se mostrar indulgente com uma atitude grandiosa
que pode até ficar bonita na foto final: anistia! Afinal, tudo saiu como eu
encaminhei, o grupo que se opunha a mim e que agiu de um jeito que eu tinha
decretado que era O Errado não prejudicou nada, não impediu nada, não evitou o
final. O Poder exercido pra ajudar, pra dar a mão, pra elevar é mais respeitado
do que o poder exercido pra massacrar, castigar, devastar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Mágoas
esquecidas, supostos males anistiados, acabou o período de Endoenças. Podemos
entrar em tempo de Aleluia, festivo, com todos participando da festa pra, em
seguida, começarmos uma Páscoa, uma renovação, uma ficha limpa pra ser
preenchida por todos e cada um com novas atitudes. Novos acertos e novos erros.
Mas que seja tudo novo!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Ressurreição
já!<o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-33371332302263529092018-03-19T13:59:00.000-03:002018-03-19T17:54:51.441-03:00GENERAIS<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAWULr0LzgX-tS3TZEt0oHk3BS_RSbWB__PMBZ64J8amfVHZYtznEUA41imTGlkkwOaKVojqpg8y4ptKZXM-knPG1PTSRijYeKdSLEQd9liDFhujyadZtO1j1_BQDIWwQSAD46WZQL7kc/s1600/GENERAL.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="567" data-original-width="567" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAWULr0LzgX-tS3TZEt0oHk3BS_RSbWB__PMBZ64J8amfVHZYtznEUA41imTGlkkwOaKVojqpg8y4ptKZXM-knPG1PTSRijYeKdSLEQd9liDFhujyadZtO1j1_BQDIWwQSAD46WZQL7kc/s320/GENERAL.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em toda situação do mundo, seja qual
for o setor, militar ou não, existem os Generais e os soldados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Generais em suas belas fardas, bem
colocados e bem posicionados na hierarquia, com suas lutas próprias e seus
motivos, envolvem, motivam e mobilizam jovens soldados que nem sempre têm a
mesma luta ou os mesmos motivos. Envolvem, motivam e mobilizam com discursos
sobre vitórias e glórias. Caso esses não envolvam, não motivem nem mobilizem, usam
ameaças de corte marcial. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os Generais garantem aos jovens
soldados que a guerra será curta, vai durar apenas poucos dias. Eles têm
certeza de que o inimigo irá se render rápido. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Claro, os Generais, mesmo cientes
disso, não informam aos soldados que o inimigo tem mais munição, tem abrigos
melhores, tem água e comida pra aguentar alguns meses de guerra. Os jovens
soldados não avaliam que só têm um cantil e algumas barras de chocolate na
mochila. E a maioria deles nem conseguiu essas coisas com os Generais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os Generais ficam em seus gabinetes e
soldados vão pra frente de batalha. Muitos morrem, muitos são mutilados, alguns
sobrevivem, todos dão a vitória aos Generais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os Generais, finalmente, ocupam o
território e assumem os postos que pretendiam. Desfilam em carro aberto.
Comemoram uma vitória que talvez não esteja sendo sentida por aquele jovem
sem um braço que sabe que, agora, vai ser difícil arrumar emprego. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Mas os Generais prometeram que a
glória da vitória recairia sobre todos os que tivessem lutado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Alguém já ouviu falar que, em
qualquer momento da História, os soldados sobreviventes, inteiros ou mutilados,
tenham realmente sido convidados a participar das glórias dos Generais? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Generais têm muitos amigos. Nenhum
deles soldado raso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Por outro lado, pode-se achar que não
é bom ser General vitorioso em terra devastada e vazia. Os Generais não estão
preocupados com isso. Se a região ocupada for totalmente destruída, eles têm a
promessa de outra região na qual serão recebidos como Generais heróicos que
venceram mas foram penalizados por isso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No fim, Generais são apenas velhos
soldados que ficaram tempo demais ali até serem promovidos. Mas continuam
tolinhos do jeitinho que eram quando se alistaram. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Tardiamente vão descobrir que outros
exércitos também têm Generais. E eles não precisam de heróis externos. Eles são
os próprios heróis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Enfim, toda guerra é inútil, como a
História já cansou de mostrar. Não há vitórias. Não há glórias. Quando muito há
discursos. E gente triste, decepcionada, amargurada... ou morta.</span></div>
Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-59467093162248024932018-03-09T07:34:00.000-03:002018-03-09T07:34:53.685-03:00MENTIRINHAS!<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9GoqSUu-qmfXQW9mZG_8Dx0nf9x8W7TMgT8UK0a15BaMZqpek7FK1K1XDXPAX5PNwGRy_lcn6XlUinVSNkXMkrIXJFC1VmsayXLUZlukpna1SNwku8IQSECL9Nu601PMvv24IAKD51eM/s1600/PAV%25C3%2583O.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="417" data-original-width="425" height="313" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9GoqSUu-qmfXQW9mZG_8Dx0nf9x8W7TMgT8UK0a15BaMZqpek7FK1K1XDXPAX5PNwGRy_lcn6XlUinVSNkXMkrIXJFC1VmsayXLUZlukpna1SNwku8IQSECL9Nu601PMvv24IAKD51eM/s320/PAV%25C3%2583O.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Aí o cara diz:
“Não concordo com nada do que você pensa. Mas tenho muito respeito por você”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mentirinha!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ora, se um
indivíduo não concorda com outro é porque acha que o outro está errado. Se o
outro está errado, com certeza o que ele está dizendo é uma bobagem frente ao
que o primeiro acha que é o certo. E como é que alguém, em sã consciência,
respeita uma pessoa que está sempre errada e só diz bobagens?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ele faz seu
número de alta nobreza e complacência com alguém que julga inferior, já que diz
coisas erradas na frente dele, logo Dele, que sabe quais são as coisas certas. Ele
alega respeito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mentirinha!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em seguida, sem
dúvida, ele vai pra junto dos seus, aqueles que compartilham de sua segurança
de que detém todas as respostas e que, como já dizia a antiga personagem, só
abre a boca quando tem certeza. Afinal, isso é natural em todos nós. Não faria
sentido convivermos o tempo todo com gente que discorda, com antagonistas. Adoramos
fazer o discurso de que o bom é a multiplicidade de idéias, de que acreditamos
que da discussão nasce a luz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mentirinha!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Só formamos
grupos, tribos, turmas, redes sociais com pessoas que pensem exatamente do
jeito que pensamos. Ou que, pelo menos, aleguem isso. Melhor ainda quando dizem
que pensam o que pensamos não porque realmente pensam daquele jeito mas porque
estão convencidas de que o que pensamos é que é bom.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ele vai pra
junto dos seus, dizia eu. E lá, claro, vai comentar o encontro com o outro, vai
contar como o outro estava enganado, o quanto tentou fazer com que o pobre
coitado visse a luz, vai detalhar o tanto que se esforçou para que o infeliz se
bandeasse para o lado Bom, que, claro, é o dele e o dos seus. Todos vão fazer
cara de admiração por sua abnegação sacerdotal e depois vão balançar a cabeça
compungidos pelo pobre coitado que não viu o caminho do Bem. Eliminando
palavras escolhidas a dedo, o que vai acontecer ali é a boa e velha fofoca
sobre o outro. E ninguém faz fofoca sobre alguém a quem se respeita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mentirinha!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Na verdade o
nobre encaminhador de almas já conseguiu algum poder, nem que seja apenas moral
e, querendo ou não, assusta a pelo menos metade dos seus ouvintes. Eles têm receio
de discordar do portador do archote, não querem ser vistos como antagonistas de
alma tão nobre e dedicada que leva todos pela mão em direção à Iluminação.
Mesmo uns poucos que começam a pensar que ele talvez seja apenas um pavão,
lindas penas, pouco corpo e, lá embaixo, pés horrendos, mesmo esses evitam
atritos. Pensam para si e se calam. E fazem a mesma cara de admiração que os
admiradores de verdade fazem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mentirinha!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">De mentirinha
em mentirinha vamos tecendo nossa sociedade. No fundo, é assim mesmo que tem
que ser. Se todos dissessem só verdades talvez não houvesse mais muita gente
viva pra discutir fome, veganismo, preconceitos, futebol ou ética. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mas minha dose
de mentiras a serem ditas ou a serem mentirosamente aceitas não inclui o cara
que diz que “me respeita”. Esse, pra mim, exagera. Quem discorda de mim, por favor,
da próxima vez que me encontrar, só discorde. Não declare respeito. Não venha
com Voltaire. Voltaire, como todos nós, era um homem, um humano, portanto, um
mentiroso. Ninguém defende de verdade o direito de outra pessoa dizer coisas
com as quais não se concorda. E nem foi Voltaire quem escreveu isso e sim uma
biógrafa dele, outra mentirinha. De qualquer maneira, a frase é vazia. Se não
concordamos é porque achamos que está errado. Se está errado, é um mal. Se é um
mal, como se pode defender o direito de alguém fazer apologia ao mal? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mentirinha!</span></div>
Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-11616023851347397072018-03-03T11:21:00.000-03:002018-03-03T11:21:04.115-03:00O CERTO É CERTO?<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhis_-d2o0nZcAthynesTc3VWwXE_Wz44plzDrRJzh_2CiCktMRc6e9LReewsXBGDagoBK7TTivSzgFQWg3V1JdtaeXmKGo6B8r6K5L2HD39Qsq2IVjezdg2eVSGFEMgIMG-059jFNdNdU/s1600/MACHADINHO.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="417" data-original-width="425" height="313" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhis_-d2o0nZcAthynesTc3VWwXE_Wz44plzDrRJzh_2CiCktMRc6e9LReewsXBGDagoBK7TTivSzgFQWg3V1JdtaeXmKGo6B8r6K5L2HD39Qsq2IVjezdg2eVSGFEMgIMG-059jFNdNdU/s320/MACHADINHO.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ultimamente tem
surgido com uma certa insistência nas redes da vida uma frase atribuída a
Gilbert Chesterton:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">“O certo é
certo, mesmo que ninguém o faça. O errado é errado, mesmo que todos se enganem
sobre ele”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Às vezes, quem
posta a frase altera uma palavra ou outra, de acordo com a conveniência do que
se pretende cobrar ou de quem se quer acusar, mas, em síntese, é isso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Parece um lindo
pensamento, uma idéia a ser seguida à risca por quem pretende ser visto como um
ser humano repleto de retidão e princípios morais e éticos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Só que (aqui
pra nós, que ninguém nos leia) as afirmações não têm realmente nenhum
significado. Errado e Certo são só convenções que variam de acordo com a época,
com o local, com o uso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Há poucas
décadas, a Lei exigia que se pedisse um alvará, uma autorização pra qualquer
reunião com mais de cinco pessoas. Numa casa com pai, mãe e duas crianças, se
quisessem fazer um bolinho de aniversário pra um dos filhos não havia nenhum
problema. Mas se convidassem o tio e a tia do garoto, tinham que pedir alvará
porque já haveria seis pessoas. Isso era o regulamento, era a Lei, portanto,
era o Certo! Mas a população começou a não ligar pra isso. Ninguém pedia alvará
nenhum. Não dava pra prender todo mundo do país inteiro. Mudou-se o Certo!
Agora o Certo passou a ser façam sua festa aí sem pedir pra ninguém. Liberdade
passou a ser o Certo. Até surgirem os Pancadões! Aí a Liberdade de reuniões
passou a não ser tão certo assim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Um dia foi
muito Errado as mulheres exibirem mais do que suas mãos e seus tornozelos em
público. Nem mesmo o formato do corpo em exibição, ainda que coberto, era
aceitável. Sofri um acidente aos seis anos e minha mãe foi impedida de entrar
numa Santa Casa pra me acompanhar porque estava, indecentemente, usando calças
compridas. Isso era Errado. Aí as mulheres queimaram sutiãs, vestiram
minissaias, fizeram movimentos, expuseram os seios nas ruas, meu-corpo-minhas-regras
e não teve jeito: mudou-se o Errado. Agora o Errado é cobrir demais o corpo com
alguma coisa que não seja tatuagem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Portanto, a
vida mostra que o Chesterton era bom de frases de efeito cuja utilidade era
fazer o citante parecer muito culto ou muito digno nos bares boêmios e, hoje em
dia, na redes. Mas o próprio Chesterton disse: “Devo o meu sucesso a ouvir
respeitosamente os melhores conselhos e depois fazer o contrário.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A História
mostra que o contrário é mais razoável. Quando muita gente insiste em fazer o
que até aquele momento era considerado Errado, a única saída é fazer com que se
torne Certo. O Certo é o que a maioria quer, o Errado é o que a maioria evita.
Está aí a descriminalização da maconha pra provar isso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O Certo não é permanente
e o Errado não é eterno.</span><o:p></o:p></div>
<br />Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6803141864695820178.post-53800956061344913312018-02-26T00:27:00.000-03:002018-02-26T00:27:30.264-03:00INVEJAS<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6v4bWbYxtfKdB6E3qbcoIOFFuSh0TBbYzpYrpyantHM9yCsctftPZXtbo20Cf6FlDAgzMZe8drY3JE-43Wkrig2VqC3Lt-_pCOZofioussFmfPo0W1axpvEhja0PD5EbRUFWkn8bYaGA/s1600/MACHADINHO.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="417" data-original-width="425" height="313" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6v4bWbYxtfKdB6E3qbcoIOFFuSh0TBbYzpYrpyantHM9yCsctftPZXtbo20Cf6FlDAgzMZe8drY3JE-43Wkrig2VqC3Lt-_pCOZofioussFmfPo0W1axpvEhja0PD5EbRUFWkn8bYaGA/s320/MACHADINHO.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O velho está
sentado perto da janela aberta. Segundo andar, frente pra rua. Cachimbo aceso,
olhando o movimento da rua, nada pra fazer. Perna direita com uma leve infecção
que não tem grandes consequências mas o impede de andar por alguns dias.
Portanto, não pode ir trabalhar. Não há nada a fazer, a não ser tomar um “sol
de janela” como ele costuma dizer. Lá na rua passa um rapaz em uma bicicleta e
cria uma leve inveja no velho. Ele adoraria poder descer e pedalar um pouco.
Mas não pode mover a perna.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O ciclista, ao
passar, olha pra cima e vê aquele homem sentado à janela, com um cachimbo aceso
na boca, um ar de vida ganha. Fica com uma leve inveja, já que está rodando com
aquela bicicleta desde a parte da manhã, fazendo entregas pra padaria para a
qual trabalha. Adoraria poder ficar sentado à janela em uma tarde de um dia de
semana, sem nada pra fazer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O sem-teto vem
passando pela rua, descalço, com um saco às costas, dentro do qual há latinhas
vazias, pedaços de papelão, diversos materiais que, mais tarde, ele irá
transformar em alguns trocados com os quais talvez coma alguma coisa. Sente uma
enorme inveja do rapaz de bicicleta, arrumadinho, de tênis, despreocupado,
olhando pra cima. O sem-teto olha pra onde o rapaz está olhando e vê o velho de
cachimbo. Sente uma inveja maior ainda daquele homem que tem uma casa na janela
da qual ficar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O menino de
seis anos que acaba de sair da escola, vem pela calçada de mão dada com a mãe.
Vê todas aquelas pessoas na rua, vê o velho na janela e, mesmo não sabendo
ainda que nome dar, sente uma pequena inveja de todos os que estão livres pra
fazerem o que quiserem, sem terem que ir pra escola, sem terem que fazer lição
de casa, sem terem que obedecer mães. Gente grande não obedece ninguém.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O sem-teto,
devido ao peso do saco que carrega tropeça e cambaleia em direção à calçada.
Quase cai em cima do menino que grita assustado. A mãe puxa o menino e os dois
acabam indo parar no meio da rua. O menino se agarra à mãe e enfia o rosto no
peito dela, com medo de olhar. O ciclista desvia da mãe e da criança mas acaba
esbarrando no sem-teto que o empurra fazendo com que caia do veículo. A mãe se
afasta de tudo levando o filho com o rosto ainda escondido nela, o ciclista
discute com o sem-teto que se levanta e não dá corda, simplesmente vai embora.
O ciclista volta pra bicicleta, dobra a esquina e desaparece. O menino, antes
de ir parar na calçada oposta ainda bem assustado, dá uma olhada pra cima e vê
o velho fechando a janela dando uma última baforada no cachimbo. Olha pra trás
e não vê mais ninguém. Apenas a rua vazia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O velho comenta
com a família que um bêbado arrumou encrenca com um daqueles moleques que não
fazem nada na vida e passam o dia andando de bicicleta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O sem-teto para
na esquina seguinte angustiado por não ter tido coragem de discutir com o
mauricinho de bicicleta. Mas o que ele poderia fazer? O moleque devia ser
filhinho de papai e podia fazer com que ele ainda fosse parar na cadeia só por
ter tropeçado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O ciclista só
está preocupado em voltar logo pra padaria e fazer outras entregas, não tem
tempo a perder com nóias chapados de crack.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O menino passou
muitos dias contando sua grande aventura pros amiguinhos na escola. Estava
voltando pra casa com a mãe quando foi atacado pelo homem do saco em pessoa! A
mãe, que é poderosa, o salvou na hora em que o homem ia colocá-lo dentro do
saco. Um moço de bicicleta bateu no monstro e ele já ia levar o moço com
bicileta e tudo mas um velho bruxo que estava numa janela ali perto, soltou
fumaça do cachimbo e fez os dois desaparecerem pra sempre!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Por alguns
dias, o menino foi alvo da inveja de toda a turma!<o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Nelson Machadohttp://www.blogger.com/profile/10653499796746925030noreply@blogger.com0