quarta-feira, 29 de agosto de 2018
MERCADO SATURADO
Ator, dublador, diretor, escritor, tradutor, roteirista, palestrante, apresentador e o que aparecer!
segunda-feira, 27 de agosto de 2018
JOHNSON
Ator, dublador, diretor, escritor, tradutor, roteirista, palestrante, apresentador e o que aparecer!
quarta-feira, 22 de agosto de 2018
TÉCNICOS
Ator, dublador, diretor, escritor, tradutor, roteirista, palestrante, apresentador e o que aparecer!
segunda-feira, 20 de agosto de 2018
AINDA MIAMI!
Ator, dublador, diretor, escritor, tradutor, roteirista, palestrante, apresentador e o que aparecer!
sexta-feira, 10 de agosto de 2018
DRT
Ator, dublador, diretor, escritor, tradutor, roteirista, palestrante, apresentador e o que aparecer!
quinta-feira, 9 de agosto de 2018
CAN YOU GET NO SATISFACTION?
Todo
mundo tem ideais. É bonito pensar em ideais coletivos, mas sabemos que isso é
improvável. Ideais coletivos são apenas imposição do que um grupo acredita ser
o ideal.
Mas
o que é o ideal pra mim pode não ser o ideal de outra pessoa. E o ideal do
outro não é menor, mais feio, mais sujo, mais baixo do que o meu só por ser
diferente.
Em
qualquer batalha nunca há só dois lados. Os lados são múltiplos. E vou
considerar qualquer lado que não seja o meu como oposto.
Quando
a batalha termina pode-se pensar que um lado ganhou. Que seja! Venceu não
necessariamente a melhor ideia, já que cada um acha que a melhor ideia é a sua.
Mas uma ideia venceu, um pensamento prevaleceu. Que se estabeleça uma trégua!
De
nada adianta amigos ou simples colegas ficarem com acusações, intrigas,
comentários sobre quem fez ou não fez isso e aquilo, quem devia e quem não
devia, suposições, suspeitas, como deveria ter sido ou o que não deveria ter
sido, gente acusando, gente rebatendo, gente se explicando...
Gente...
acabou!
Nada
dessas vingancinhas, maledicências ou adaptações light dos antigos
“justiçamentos” vai servir pra alguma coisa.
Nada
muda o ontem e nada garante o amanhã.
O
hoje está definido. Vamos viver isso, dia-a-dia.
Todos
temos mágoas, raivas, coisas a cobrar, desmandos a acusar. Mas com isso só
vamos conseguir manter o clima de pressão no qual pensamos que iríamos por um
fim ao escolhermos um ideal pra acatar.
Quem
se dá bem não ficando satisfeito nunca é banda de rock. Mesmo assim, só uma!
Voltemos
à vida normal. Cada um cuidando da sua, que, afinal, é o máximo que qualquer
ser humano realmente consegue fazer.
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quarta-feira, 8 de agosto de 2018
COLECIONADORES DE DUBLAGENS II
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segunda-feira, 6 de agosto de 2018
FORA DO BRASIL
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GENTE BOA!
“Eu
desisto! Não existe essa manhã que eu perseguia. Um lugar que me dê trégua ou
me sorria. Uma gente que não viva só pra si. Só encontro gente amarga
mergulhada no passado procurando repartir seu mundo errado nesta vida sem amor
que eu aprendi”.
Taiguara
lançou essa música em 1974. Há 44 anos. E a toda hora a vida faz com que me
lembre dela.
De
tempos em tempos parece que o mundo em volta de mim enlouquece. Gente acusando,
gente reclamando, gente difamando, gente se aproveitando pra destruir
desafetos, gente fazendo promessas, gente fazendo ameaças, julgando,
condenando.
Gente
interferindo com a vida de muita gente
pra manter uma posição equivocada, às vezes não merecida. Em toda parte!
Parece um comportamento transmitido por algum tipo de mosquito que se reproduz
de tempos em tempos, uma endemia.
Enfim,
talvez não exista mesmo essa manhã que eu perseguia...
Mas...
não! Eu não desisto!
Minha
gente não merece desistências. Minha gente merece fé. E eu tenho fé. Ainda
acredito que minha gente, na verdade, é boa gente.
Gente
boa.
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domingo, 5 de agosto de 2018
TRADUTTORE TRADITORE
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domingo, 1 de abril de 2018
PÁSCOA
Festa cristã.
Não sou lá muito cristão, embora, sendo brasileiro, tenha uma formação
compulsória mais ou menos baseada no cristianismo. Por aqui, todos sabemos, até
ateu diz “Graças a Deus”, curte um presente de Natal e adora um ovinho de
chocolate na Páscoa. Sem contar o fato de que ninguém se queixa dos feriados
prolongados que o laicismo de mentirinha proporciona a todos nós.
Mas mesmo sem
ser um praticante, culturalmente sei de datas, fatos, histórias, lendas. E me pego pensando em coisas ligadas a tudo isso durante o tríduo
Endoenças-Aleluia-Páscoa.
Época de
renovação. Época de revitalização, palavra com significado óbvio de reviver,
ressuscitar, fazer voltar a vida perdida e voltar à vida quem a perdeu.
Simbólico, claro. Ninguém vai sair por aí levantando mortos e criando um
apocalipse zumbi. Mas é possível revitalizar tantas outras coisas!
Na semiótica da
chamada Semana Santa temos uma ordem das coisas. Primeiro Endoenças, período de
indulgência, de perdão, de limpeza de desavenças passadas. Em seguida Aleluia,
dia de alegria, de cânticos e glorificações pelo ressurgimento que há de vir,
seja do que for. Mesmo que a cultura popular tenha convertido esse dia em
simplesmente “Dia de Malhar o Judas”. E, finalmente a Páscoa, o dia da
ressurreição, dia em que tudo se renova, revitaliza, revigora, ressurge para reiniciar
direito, talvez desta vez dê certo, quem sabe começando de outro jeito a gente
faça funcionar. Seja o que for.
Neste momento penso se não devíamos aplicar essas ideias em qualquer coisa. Se o
caminho para que algumas coisas se acertem não passa exatamente por aí.
Por exemplo.
Tenho uma ideia
do que é certo. Arrebanho um grupo que compartilha das minhas convicções e das
minhas intenções. Começamos a botar em prática o que achamos certo. Com isso
assumimos um comando que até o momento ninguém tinha, uma vaga a ser preenchida
na elaboração do Certo. Mas todo mundo sabe que não existe O Certo. Quando
muito existe UM Certo. O meu é um. Outras pessoas podem não achar que o meu
certo seja O Certo. Não são pessoas más. Não são pessoas vis. Não são menos do que
eu. Só pensam de maneira diferente. Mas eu estou no comando. Eu e meu grupo
temos certeza de que sabemos qual é o único Certo e consideramos qualquer
oposição uma afronta não a nós mas ao Certo. Uma ilegitimidade. E isso não pode
continuar. Começamos a penalizar os opositores. Eles, por sua vez, se achando
certos, mas sem o poder de comando do meu grupo, sentem que só lhes resta a
guerrilha, minar o grupo oposto, reclamar, xingar, fazer oposição velada pra
não sofrer consequências. Meu grupo, por sua vez, se sente ultrajado por estar
sendo traiçoeiramente difamado por gente que não quer que O Certo vença. E essa
batalha subterrânea pode durar anos, décadas!
É aí que entra
meu pensamento no tríduo. Endoenças, ou seja, Indulgência. Bom período pra
todos pensarem em serem mais indulgentes. De todos os lados. O grupo opositor
pode exercer essa indulgência apagando mágoas, deixando de lado pequenas
ofensas, esquecendo que o outrora amigo fez isso ou aquilo com ele. O amigo não
fez com ele. Fez em nome de um Certo que ele acredita ser único. O meu grupo
hipotético, o do comando, pode se mostrar indulgente com uma atitude grandiosa
que pode até ficar bonita na foto final: anistia! Afinal, tudo saiu como eu
encaminhei, o grupo que se opunha a mim e que agiu de um jeito que eu tinha
decretado que era O Errado não prejudicou nada, não impediu nada, não evitou o
final. O Poder exercido pra ajudar, pra dar a mão, pra elevar é mais respeitado
do que o poder exercido pra massacrar, castigar, devastar.
Mágoas
esquecidas, supostos males anistiados, acabou o período de Endoenças. Podemos
entrar em tempo de Aleluia, festivo, com todos participando da festa pra, em
seguida, começarmos uma Páscoa, uma renovação, uma ficha limpa pra ser
preenchida por todos e cada um com novas atitudes. Novos acertos e novos erros.
Mas que seja tudo novo!
Ressurreição
já!
Ator, dublador, diretor, escritor, tradutor, roteirista, palestrante, apresentador e o que aparecer!
segunda-feira, 19 de março de 2018
GENERAIS
Em toda situação do mundo, seja qual
for o setor, militar ou não, existem os Generais e os soldados.
Generais em suas belas fardas, bem
colocados e bem posicionados na hierarquia, com suas lutas próprias e seus
motivos, envolvem, motivam e mobilizam jovens soldados que nem sempre têm a
mesma luta ou os mesmos motivos. Envolvem, motivam e mobilizam com discursos
sobre vitórias e glórias. Caso esses não envolvam, não motivem nem mobilizem, usam
ameaças de corte marcial.
Os Generais garantem aos jovens
soldados que a guerra será curta, vai durar apenas poucos dias. Eles têm
certeza de que o inimigo irá se render rápido.
Claro, os Generais, mesmo cientes
disso, não informam aos soldados que o inimigo tem mais munição, tem abrigos
melhores, tem água e comida pra aguentar alguns meses de guerra. Os jovens
soldados não avaliam que só têm um cantil e algumas barras de chocolate na
mochila. E a maioria deles nem conseguiu essas coisas com os Generais.
Os Generais ficam em seus gabinetes e
soldados vão pra frente de batalha. Muitos morrem, muitos são mutilados, alguns
sobrevivem, todos dão a vitória aos Generais.
Os Generais, finalmente, ocupam o
território e assumem os postos que pretendiam. Desfilam em carro aberto.
Comemoram uma vitória que talvez não esteja sendo sentida por aquele jovem
sem um braço que sabe que, agora, vai ser difícil arrumar emprego.
Mas os Generais prometeram que a
glória da vitória recairia sobre todos os que tivessem lutado.
Alguém já ouviu falar que, em
qualquer momento da História, os soldados sobreviventes, inteiros ou mutilados,
tenham realmente sido convidados a participar das glórias dos Generais?
Generais têm muitos amigos. Nenhum
deles soldado raso.
Por outro lado, pode-se achar que não
é bom ser General vitorioso em terra devastada e vazia. Os Generais não estão
preocupados com isso. Se a região ocupada for totalmente destruída, eles têm a
promessa de outra região na qual serão recebidos como Generais heróicos que
venceram mas foram penalizados por isso.
No fim, Generais são apenas velhos
soldados que ficaram tempo demais ali até serem promovidos. Mas continuam
tolinhos do jeitinho que eram quando se alistaram.
Tardiamente vão descobrir que outros
exércitos também têm Generais. E eles não precisam de heróis externos. Eles são
os próprios heróis.
Enfim, toda guerra é inútil, como a
História já cansou de mostrar. Não há vitórias. Não há glórias. Quando muito há
discursos. E gente triste, decepcionada, amargurada... ou morta.
Ator, dublador, diretor, escritor, tradutor, roteirista, palestrante, apresentador e o que aparecer!
sexta-feira, 9 de março de 2018
MENTIRINHAS!
Aí o cara diz:
“Não concordo com nada do que você pensa. Mas tenho muito respeito por você”.
Mentirinha!
Ora, se um
indivíduo não concorda com outro é porque acha que o outro está errado. Se o
outro está errado, com certeza o que ele está dizendo é uma bobagem frente ao
que o primeiro acha que é o certo. E como é que alguém, em sã consciência,
respeita uma pessoa que está sempre errada e só diz bobagens?
Ele faz seu
número de alta nobreza e complacência com alguém que julga inferior, já que diz
coisas erradas na frente dele, logo Dele, que sabe quais são as coisas certas. Ele
alega respeito.
Mentirinha!
Em seguida, sem
dúvida, ele vai pra junto dos seus, aqueles que compartilham de sua segurança
de que detém todas as respostas e que, como já dizia a antiga personagem, só
abre a boca quando tem certeza. Afinal, isso é natural em todos nós. Não faria
sentido convivermos o tempo todo com gente que discorda, com antagonistas. Adoramos
fazer o discurso de que o bom é a multiplicidade de idéias, de que acreditamos
que da discussão nasce a luz.
Mentirinha!
Só formamos
grupos, tribos, turmas, redes sociais com pessoas que pensem exatamente do
jeito que pensamos. Ou que, pelo menos, aleguem isso. Melhor ainda quando dizem
que pensam o que pensamos não porque realmente pensam daquele jeito mas porque
estão convencidas de que o que pensamos é que é bom.
Ele vai pra
junto dos seus, dizia eu. E lá, claro, vai comentar o encontro com o outro, vai
contar como o outro estava enganado, o quanto tentou fazer com que o pobre
coitado visse a luz, vai detalhar o tanto que se esforçou para que o infeliz se
bandeasse para o lado Bom, que, claro, é o dele e o dos seus. Todos vão fazer
cara de admiração por sua abnegação sacerdotal e depois vão balançar a cabeça
compungidos pelo pobre coitado que não viu o caminho do Bem. Eliminando
palavras escolhidas a dedo, o que vai acontecer ali é a boa e velha fofoca
sobre o outro. E ninguém faz fofoca sobre alguém a quem se respeita.
Mentirinha!
Na verdade o
nobre encaminhador de almas já conseguiu algum poder, nem que seja apenas moral
e, querendo ou não, assusta a pelo menos metade dos seus ouvintes. Eles têm receio
de discordar do portador do archote, não querem ser vistos como antagonistas de
alma tão nobre e dedicada que leva todos pela mão em direção à Iluminação.
Mesmo uns poucos que começam a pensar que ele talvez seja apenas um pavão,
lindas penas, pouco corpo e, lá embaixo, pés horrendos, mesmo esses evitam
atritos. Pensam para si e se calam. E fazem a mesma cara de admiração que os
admiradores de verdade fazem.
Mentirinha!
De mentirinha
em mentirinha vamos tecendo nossa sociedade. No fundo, é assim mesmo que tem
que ser. Se todos dissessem só verdades talvez não houvesse mais muita gente
viva pra discutir fome, veganismo, preconceitos, futebol ou ética.
Mas minha dose
de mentiras a serem ditas ou a serem mentirosamente aceitas não inclui o cara
que diz que “me respeita”. Esse, pra mim, exagera. Quem discorda de mim, por favor,
da próxima vez que me encontrar, só discorde. Não declare respeito. Não venha
com Voltaire. Voltaire, como todos nós, era um homem, um humano, portanto, um
mentiroso. Ninguém defende de verdade o direito de outra pessoa dizer coisas
com as quais não se concorda. E nem foi Voltaire quem escreveu isso e sim uma
biógrafa dele, outra mentirinha. De qualquer maneira, a frase é vazia. Se não
concordamos é porque achamos que está errado. Se está errado, é um mal. Se é um
mal, como se pode defender o direito de alguém fazer apologia ao mal?
Mentirinha!
Ator, dublador, diretor, escritor, tradutor, roteirista, palestrante, apresentador e o que aparecer!
sábado, 3 de março de 2018
O CERTO É CERTO?
Ultimamente tem
surgido com uma certa insistência nas redes da vida uma frase atribuída a
Gilbert Chesterton:
“O certo é
certo, mesmo que ninguém o faça. O errado é errado, mesmo que todos se enganem
sobre ele”.
Às vezes, quem
posta a frase altera uma palavra ou outra, de acordo com a conveniência do que
se pretende cobrar ou de quem se quer acusar, mas, em síntese, é isso.
Parece um lindo
pensamento, uma idéia a ser seguida à risca por quem pretende ser visto como um
ser humano repleto de retidão e princípios morais e éticos.
Só que (aqui
pra nós, que ninguém nos leia) as afirmações não têm realmente nenhum
significado. Errado e Certo são só convenções que variam de acordo com a época,
com o local, com o uso.
Há poucas
décadas, a Lei exigia que se pedisse um alvará, uma autorização pra qualquer
reunião com mais de cinco pessoas. Numa casa com pai, mãe e duas crianças, se
quisessem fazer um bolinho de aniversário pra um dos filhos não havia nenhum
problema. Mas se convidassem o tio e a tia do garoto, tinham que pedir alvará
porque já haveria seis pessoas. Isso era o regulamento, era a Lei, portanto,
era o Certo! Mas a população começou a não ligar pra isso. Ninguém pedia alvará
nenhum. Não dava pra prender todo mundo do país inteiro. Mudou-se o Certo!
Agora o Certo passou a ser façam sua festa aí sem pedir pra ninguém. Liberdade
passou a ser o Certo. Até surgirem os Pancadões! Aí a Liberdade de reuniões
passou a não ser tão certo assim.
Um dia foi
muito Errado as mulheres exibirem mais do que suas mãos e seus tornozelos em
público. Nem mesmo o formato do corpo em exibição, ainda que coberto, era
aceitável. Sofri um acidente aos seis anos e minha mãe foi impedida de entrar
numa Santa Casa pra me acompanhar porque estava, indecentemente, usando calças
compridas. Isso era Errado. Aí as mulheres queimaram sutiãs, vestiram
minissaias, fizeram movimentos, expuseram os seios nas ruas, meu-corpo-minhas-regras
e não teve jeito: mudou-se o Errado. Agora o Errado é cobrir demais o corpo com
alguma coisa que não seja tatuagem.
Portanto, a
vida mostra que o Chesterton era bom de frases de efeito cuja utilidade era
fazer o citante parecer muito culto ou muito digno nos bares boêmios e, hoje em
dia, na redes. Mas o próprio Chesterton disse: “Devo o meu sucesso a ouvir
respeitosamente os melhores conselhos e depois fazer o contrário.”
A História
mostra que o contrário é mais razoável. Quando muita gente insiste em fazer o
que até aquele momento era considerado Errado, a única saída é fazer com que se
torne Certo. O Certo é o que a maioria quer, o Errado é o que a maioria evita.
Está aí a descriminalização da maconha pra provar isso.
O Certo não é permanente
e o Errado não é eterno.
Ator, dublador, diretor, escritor, tradutor, roteirista, palestrante, apresentador e o que aparecer!
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
INVEJAS
O velho está
sentado perto da janela aberta. Segundo andar, frente pra rua. Cachimbo aceso,
olhando o movimento da rua, nada pra fazer. Perna direita com uma leve infecção
que não tem grandes consequências mas o impede de andar por alguns dias.
Portanto, não pode ir trabalhar. Não há nada a fazer, a não ser tomar um “sol
de janela” como ele costuma dizer. Lá na rua passa um rapaz em uma bicicleta e
cria uma leve inveja no velho. Ele adoraria poder descer e pedalar um pouco.
Mas não pode mover a perna.
O ciclista, ao
passar, olha pra cima e vê aquele homem sentado à janela, com um cachimbo aceso
na boca, um ar de vida ganha. Fica com uma leve inveja, já que está rodando com
aquela bicicleta desde a parte da manhã, fazendo entregas pra padaria para a
qual trabalha. Adoraria poder ficar sentado à janela em uma tarde de um dia de
semana, sem nada pra fazer.
O sem-teto vem
passando pela rua, descalço, com um saco às costas, dentro do qual há latinhas
vazias, pedaços de papelão, diversos materiais que, mais tarde, ele irá
transformar em alguns trocados com os quais talvez coma alguma coisa. Sente uma
enorme inveja do rapaz de bicicleta, arrumadinho, de tênis, despreocupado,
olhando pra cima. O sem-teto olha pra onde o rapaz está olhando e vê o velho de
cachimbo. Sente uma inveja maior ainda daquele homem que tem uma casa na janela
da qual ficar.
O menino de
seis anos que acaba de sair da escola, vem pela calçada de mão dada com a mãe.
Vê todas aquelas pessoas na rua, vê o velho na janela e, mesmo não sabendo
ainda que nome dar, sente uma pequena inveja de todos os que estão livres pra
fazerem o que quiserem, sem terem que ir pra escola, sem terem que fazer lição
de casa, sem terem que obedecer mães. Gente grande não obedece ninguém.
O sem-teto,
devido ao peso do saco que carrega tropeça e cambaleia em direção à calçada.
Quase cai em cima do menino que grita assustado. A mãe puxa o menino e os dois
acabam indo parar no meio da rua. O menino se agarra à mãe e enfia o rosto no
peito dela, com medo de olhar. O ciclista desvia da mãe e da criança mas acaba
esbarrando no sem-teto que o empurra fazendo com que caia do veículo. A mãe se
afasta de tudo levando o filho com o rosto ainda escondido nela, o ciclista
discute com o sem-teto que se levanta e não dá corda, simplesmente vai embora.
O ciclista volta pra bicicleta, dobra a esquina e desaparece. O menino, antes
de ir parar na calçada oposta ainda bem assustado, dá uma olhada pra cima e vê
o velho fechando a janela dando uma última baforada no cachimbo. Olha pra trás
e não vê mais ninguém. Apenas a rua vazia.
O velho comenta
com a família que um bêbado arrumou encrenca com um daqueles moleques que não
fazem nada na vida e passam o dia andando de bicicleta.
O sem-teto para
na esquina seguinte angustiado por não ter tido coragem de discutir com o
mauricinho de bicicleta. Mas o que ele poderia fazer? O moleque devia ser
filhinho de papai e podia fazer com que ele ainda fosse parar na cadeia só por
ter tropeçado.
O ciclista só
está preocupado em voltar logo pra padaria e fazer outras entregas, não tem
tempo a perder com nóias chapados de crack.
O menino passou
muitos dias contando sua grande aventura pros amiguinhos na escola. Estava
voltando pra casa com a mãe quando foi atacado pelo homem do saco em pessoa! A
mãe, que é poderosa, o salvou na hora em que o homem ia colocá-lo dentro do
saco. Um moço de bicicleta bateu no monstro e ele já ia levar o moço com
bicileta e tudo mas um velho bruxo que estava numa janela ali perto, soltou
fumaça do cachimbo e fez os dois desaparecerem pra sempre!
Por alguns
dias, o menino foi alvo da inveja de toda a turma!
Ator, dublador, diretor, escritor, tradutor, roteirista, palestrante, apresentador e o que aparecer!
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018
ANONIMATO
Certa vez uma
amiga, bem intencionada mas não tão bem orientada, se referiu de maneira
crítica ao fato de eu divulgar os trabalhos em que estou envolvido, tornando
públicos os nomes das pessoas que o realizaram como dubladores, técnicos,
tradutores, mixadores, etc.
É preciso
explicar alguns detalhes internos quanto a essa divulgação.
Em nosso
trabalho há contratos que assinamos com cláusulas sobre a execução, sobre
remuneração e, em alguns deles, exigência de confidencialidade. Claro que essa
tal confidencialidade se refere a não divulgar o que acontece no filme ou na
série, uma proteção contra o que é chamado de SPOILER em português atual (que
todos sabem ter origem anglo-saxã).
Gostaria que o paciente
leitor tivesse isso em mente: nem todo trabalho que fazemos tem contrato, nem
todo contrato tem cláusula de confidencialidade, nem todo contrato que tenha
essa cláusula se refere à proibição de um dublador dizer publicamente “Eu
dublei o ator Tal”. E, mais importante, esses contratos sempre aparecem semanas
depois de termos terminado o trabalho. Ora, todo contrato deve ser, legal e
moralmente, cumprido após sua assinatura mas antes de ele sequer aparecer não
há nada que obrigue ninguém a cumpri-lo por dedução, por suposição, por alguém
achar que o contrato talvez tenha a cláusula X ou Y.
Isso posto,
quero lembrar que sempre foi essencial divulgar o trabalho de artistas. Artistas
dependem de divulgação sempre. Cantores, escritores, pintores, atores, seja que
tipo de artista for. Quando não há o tal contrato, só restou a opinião de
algumas pessoas sobre o assunto e ela é tão boa quanto qualquer outra opinião. Acredito
que foi aí que minha amiga caiu na orientação equivocada à qual me referi ao me
cobrar por divulgar trabalhos meus e de colegas.
Eu sempre vou
divulgar tudo o que eu dirigir porque tenho um grande respeito pelo elenco que
participa dos trabalhos que fazemos e acho que não basta aquela listinha no fim
do filme onde ninguém lê. Todo mundo já sabe, por exemplo, que Paul McCartney
vai fazer um tio do Jack Sparrow no próximo Piratas do Caribe. Já sabe tudo
sobre os próximos filmes de todos os super-heróis. Já sabe que Christian Bale
voltará a ser o Batman. Já sabe que o Doutor de Doctor Who será uma mulher na
próxima temporada. De onde saiu a brilhante idéia de que os dubladores devem ficar
escondidos? Se me derem um contrato de confidencialidade, vou assinar e
obedecer. Caso ele não exista, meu elenco sempre vai estar sob holofotes, que é
o lugar de todo artista. Um quadrinho no Facebook ou um comentário no Tweeter nem
é um holofote, é uma lanterna. Mas é melhor do que nada.
Na verdade não
acredito que qualquer um, enquanto artista, não goste de ver seu nome em
destaque nos trabalhos que faz.
Não faz muito
sentido um artista sem divulgação!
Obedecer o tal
contrato, quando ele existe, é uma obrigação que, por enquanto, temos que
cumprir, sem alternativa. Mas apoiar essa idéia, transformá-la em uma coisa boa
ou cumprir por antecipação, sem saber sequer se o contrato vai existir, é
reduzir artistas de grande talento a uma condição inferior, é levar todos para
décadas no passado quando ninguém do público os conhecia, quando não se sabia sequer
de sua existência, um retrocesso que só atende a interesses de quem precisa que
os artistas permaneçam desconhecidos, pequenos e submissos a imposições.
Concordar com
essa idéia e até cobrar sua aplicação não é um sinal de posicionamento ético e
de bem proceder. É só falta de posicionamento e inércia sem procedimentos.
Ausência de ousadia. E o que mais se espera de um artista é ousadia. A quebra
de paradigmas. A simples obediência é um comportamento vacum, um suicídio
profissional e artístico.
Um artista anônimo
é um artista morto.
Ator, dublador, diretor, escritor, tradutor, roteirista, palestrante, apresentador e o que aparecer!
terça-feira, 13 de fevereiro de 2018
REVENDO O MOMENTO COM SHERLOCK
Então por que
assisti mais uma vez? E por que sei que ainda vou ver de novo? Já sei tudo
sobre as deduções e idiossincrasias do Sherlock, a lealdade e a dignidade do
Watson, a força e determinação disfarçadas em graciosidade da sra. Hudson, a entrega
total e absoluta da Molly Hooper, a confiança e admiração do Greg Lestrade, a
genialidade insana do Jim Moriarty. Por que continuo assistindo?
É que agora que
já sei tudo isso posso me entregar ao prazer de olhar detalhes de produção, de
direção, analisar roteiros, usufruir da interpretação de todo aquele elenco fenomenal
da BBC e, acima de tudo, me regozijar com a Dublagem da série!
Nos créditos
aparece escrito “Direção de Dublagem: Nelson Machado”. De todos os trabalhos de
direção que fiz, nos mais de 30 anos nessa função, esse é o de que tenho mais
orgulho! Mas não acho que nesse trabalho a minha função tenha sido exatamente a
de Diretor. A palavra nos leva a pensar em uma pessoa no comando absoluto,
naquele que dita o que deve ser feito, que dá as ordens, naquele cuja palavra é
o regulamento final. E não foi assim que me senti nesse trabalho.
Me senti mais um
regente. Um maestro. Alguém à frente de uma orquestra afinada, com músicos da
mais alta competência, cada um conhecendo seu instrumento a fundo e tirando
dele a melodia mais tocante, o som mais encantador. Basta ao regente pedir. A
magia virá de cada um.
Nessa série
houve uma entrega de todos tão completa, um prazer em participar da obra tão
evidente que as emoções saltam da tela pros nosso ouvidos e nos atingem em
cheio da maneira que se previu, sem falhas. “Um artista só não toca a quem de
si não abre uma porta”, disse Sílvio Giraldi em uma das suas excelentes
músicas. Se o espectador deixar sua porta apenas entreaberta, os Dubladores de
Sherlock irão tocá-lo de forma profunda e permanente.
Vilões, vítimas e
familiares inesquecíveis dublados por Alessandra Merz, Alna Ferreira, Armando
Tiraboschi, Carlinhos Silveira, Cecília Lemes, Fábio Moura, Gabriel Noya, Gilberto
Baroli, Leo Caldas, Mara Lídia, Marcelo Pissardini, Márcia Regina, Rosely
Gonçalves, Tatiane Keplmair, Teca Pinkovai; parceiros em praticamente todas as
aventuras dublados por Cássia Biceglia, Márcio Marconato, Raquel Marinho, Rosana
Beltrame, Samira Fernandes, Sérgio Rufino, Thiago Zambrano, Zayra Zordan; e,
claro, a dupla principal, Sherlock e Watson com uma dublagem acima e além do
cumprimento do dever de Nestor Chiesse e Ricardo Teles somada à maluca e difícil interpretação vocal de André Sauer no maníaco Jim Moriarty. Momentos grandiosos onde
as vozes se aliam às imagens de forma tão competente e com tanta sensibilidade que
viajamos nas emoções e nos esquecemos de que está dublado.
Trabalhos assim
resgatam um pouco do nosso prazer dessa profissão neste momento em que parece
que vivemos apenas de queixas, acusações, patrulhamentos, gritos, dedos
apontados, um momento em que parece estarmos vendo apenas o que há de errado no
mundo, no nosso mundo, nos tornando fiscais, ativistas, policiais, juízes e
deixando pouco tempo pra nos lembrarmos de que somos mais do que isso. Somos
artistas!
Não há
regulamento no mundo que obrigue um elenco a fazer o que fez em Sherlock e em
tantas outras produções excepcionalmente bem dubladas que têm aparecido. Apenas
o talento, a entrega e a vontade de fazer bem feito leva a esse resultado. Não
o dedo acusatório de quem se supõe o inventor e o fiscal do que é certo. Não as
ameaças constrangedoras ou o julgamento sumário com execução imediata de quem
ainda ontem chamávamos de amigo. Apenas a alma do artista cria a arte. A boa.
Aquela que nos atinge. Aquela que guardamos na memória e no coração. A arte que
“só não toca a quem de si não abre uma porta”.
Sherlock é um
exemplo incontestável dessa arte de Dubladores fabulosos. Eu apenas regi a
sinfonia. Eles sabiam o que fazer com seus instrumentos e criaram beleza. Há
mais exemplos por aí. Se pararmos de procurar apenas as coisas das quais
possamos falar mal e passarmos a aclamar as boas, veremos que estas são em
número assombrosamente maior do que aquelas.
Ator, dublador, diretor, escritor, tradutor, roteirista, palestrante, apresentador e o que aparecer!
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