Escrevi o texto abaixo no dia 31 de dezembro de 2013. Postei, mas logo depois fiz alterações no blog e ele acabou se perdendo. Estou republicando, completamente fora de datas, propósitos, sem nenhum senso de oportunidade, mas gostaria que um dia alguém lesse. Nem que fossem só meus netos.
Esta noite
estaremos a quatorze anos de distância do dia em que os cristãos se enganaram.
E estaremos a dois anos e dez dias de distância do dia em que os maias erraram
feio. Esta noite teremos chegado, contra todas as previsões, a 2014!
Pra quem nasceu
sete meses antes de Getúlio Vargas se matar, chegar a 2014 é uma façanha!
Principalmente depois de passar por (no mínimo) quatro fins-do-mundo.
O mundo não
acabou e eu vi os militares ocupando o país em 64, vi censura, tumultos, AI-5,
vi São Paulo toda iluminada à noite, antes que prefeitos esquisitões e teorias
malucas apagassem tudo, vi o ovo fazer mal, depois fazer bem, depois matar,
depois salvar vidas, vi o café ser proibido para crianças e depois ser
recomendado como estimulante do cérebro antes das aulas, vi o mertiolate arder,
acompanhei a Coca-Cola desde que era a
pausa que refrescava até compartilhar tudo, vi Arrelia e Pimentinha, Fuzarca e
Torresmo, Pim-Pam-Pum, Pullman Júnior, Capitão Sete, Capitão Estrela, o Sheik
de Agadir, O Direito de Nascer, A Outra Face de Anita, A Muralha, My Fair Show,
Times Square, Essa Noite se Improvisa, Quem Tem Medo da Verdade, Jovem Guarda,
O Fino da Bossa, Vigilante Rodoviário, vi nascerem Os Trapalhões, vi os Grandes
Festivais da Record, o horrível Festival da Globo, vi surgirem Caetano, Gil,
Bethânia, Gal, Chico, Roberto, Erasmo, Tim, Benjor que ainda era só Ben, era
pequeno mas já estava por aqui quando Bibi Ferreira brilhou na primeira vez em
que montaram Hello Dolly no Brasil, vi
que, na época, ainda tínhamos autoestima bastante pra chamar a peça de Alô
Dolly, vi o cabo Rusty chamar o Rin-Tin-Tin em português pela primeira vez na
televisão brasileira, vi todas as estreias de desenhos da Disney desde Os 101
Dálmatas que, na época, se chamava A Guerra dos Dálmatas, vi as sessões
matinais de domingo do Cine Metro com desenhos de Tom e Jerry, vi o Cine Metro
virar igreja, o cine Olido virar galeria e o cine Comodoro virar prédio
abandonado, almocei com meu pai no Restaurante do Papai quando as pessoas ainda
iam com as famílias passear na Rua Vitória, corri ávido para o cinema a cada
filme do Jerry Lewis, vi o fogo consumir o Edifício Andraus e o Joelma, vi a
cadelinha Laika morrer no espaço, vi Yuri Gagarin e Neil Armstrong terem mais
sorte, vi Jackie Kennedy na parte traseira do carro tentando recuperar partes
da cabeça do marido após o tiro, vi a Guerra do Vietnam, vi o Caso Watergate,
vi construírem o Minhocão, vi cavarem o primeiro buraco do Metrô, vi o
Cruzeiro, o Cruzeiro Novo, o Cruzado, o Cruzado Novo, a ORTN, o Real, padeci
sob o poder de Gunter Langsam no Teatro Santana, me perdi deliciosamente pelos
shows em inferninhos na Bento Freitas, fui resgatado para o Teatro por Carlos
Alberto Santana, montei, dirigi, musiquei e participei como ator de espetáculos
bem pequenos como Quitu ou O Dragão e a Princesa e de montagens grandes ou de
sucesso como A Bruxinha Dorotéia ou Como Agitar Seu Apartamento, frequentei
Orvietto, Gigetto, Família Manccini, Montechiaro em noites memoráveis, criei
programas e escrevi histórias na Rádio Mulher em Santo Amaro, convivi com Vida
Alves, estudei e depois lecionei no Colégio Eco na Lapa, tive a felicidade de
ter dois mentores fabulosos, um nas lides do idioma e do aprendizado em geral,
Ariel Vargas, outro nas artes e na vida, Líbero Miguel, coloquei minha voz
sobre a imagem de incontáveis atores famosos, sobre desenhos que se tornaram
clássicos, sobre um personagem que dali pra frente acompanharia
compulsoriamente minha vida em todos os momentos, fiz humor com Agildo Ribeiro,
participei de um dos projetos infantis mais bonitos que este país já produziu
com o Ely Barbosa, me casei quatro vezes, tive três filhas, tenho seis netos, e
tenho tantas outras lembranças boas e más que não caberiam no espaço em que me
propus a escrever. Mas elas estão aqui, comigo, todas formando quem eu sou hoje
em dia.
Tanta coisa
aconteceu e o mundo não acabou. Esta noite entraremos em 2014... Os cristãos,
os maias, Nostradamus, os Borboletas Azuis, todos se enganaram. Felizmente!
Chegar a 2014
tem um significado muito especial pra mim. Dentro de 14 dias eu completo 60
anos de aventuras, aprendizado, erros, acertos, enfim, de vida! Como eu disse
no começo, uma façanha!
2014 está aí na
porta. Com vários apelidos... Ano da Copa. E mesmo que o fato esteja meio
ofuscado pelo brilho de refletores dos estádios novinhos em folha, também é
chamado de Ano de Eleições Presidenciais.
Mas vamos
chamá-lo, simplesmente, de Ano Novo! E vamos contabilizá-lo como mais um em
nossas vidas.
Como em todo
Ano Novo é de bom tom fazermos Novos Votos, deixo aqui os meus. Que o fim do
mundo nunca venha e que todos possam passar por essa aventura que é estar vivo
por muito tempo pra poderem contar tudo o que viram daqui a vinte, trinta,
quarenta, cinquenta, sessenta anos! Mas pra chegar lá, acreditem, é preciso ir
seguindo ano a ano. Descobrindo o que cada um deles nos reserva. Aproveitando
cada momento. Para se vangloriar ou para se arrepender. Tanto faz. Estar vivo e
durar até o próximo ano já será uma façanha e tanto!
Eu li! Do alto dos meus 30 anos, muitas referências devem ter passado acima da minha cabeça... mas deu até um pouco de saudade do que não conheci.
ResponderExcluirps: vou comprar uma cópia do Versão Brasileira pelo pag seguro no link que tem aí do lado.